*Alexsandro Alves
I
Uma boa conversa é aquela em que personagens são invocados e se fazem presentes assim, quase do nada, como vagas que surgem e desaparecem sem motivo aparente.
Jogar conversa fora é isso: é entrar em uma embarcação onde o destino se dá na hora, sem planejamento.
É também uma das coisas mais interessantes que nossa memória produz, quando jogamos conversa fora, uma boa conversa jogada fora é um livro escrito por várias bocas, é uma arte.
Não sabemos onde vamos parar, apenas deixamos as memórias saltarem em vagas e novamente submergirem para outras vagas emergirem.
Num desses momentos agradáveis, em casa de Franklin Jorge, conversámos ele, eu, os irmãos Julião e Zé Brasil.
Zé Brasil é um tipo conversador. Daqueles que seguram o leme da nau.
Desta feita, Renato Caldas emergiu de suas memórias. Conversámos sobre um antigo prefeito de Açu, o governador Dix-Sept Rosado, aviões e então, Renato deu sua deixa.
O poeta açuense, autor de lírica poesia matuta, como “Fulô do mato”, tinha como hábito os disparos de uma incontida sinceridade e nunca se deixou entrevistar por ninguém. Apenas Franklin Jorge é dono dessa façanha, que entrevistou um Renato Caldas já idoso, aos 88 anos.
Na boemia carioca conheceu Carlos Lacerda. O governador da Guanabara criara um projeto, “Ajuda teu irmão”, para ajudar nordestinos. E Caldas, desejoso de publicar seu primeiro livro, exatamente “Fulô do mato”, chegou para o governador e disse que queria uma ajuda para a publicação da obra.
Você é o quê?
Eu sou poeta e repentista!
Pois faça um rima com minha campanha!
E o nosso poeta fez de bate-pronto:
Seu dotô Carlos Lacerda,
qui’nventô essa merda de ajuda teu irmão,
publica Fulô do mato,
ajuda o pobre Renato,
poeta lá do Sertão!
II
O poeta do Sertão era tão boêmio que na noite de núpcias deixou a noiva em casa, ainda virgem, e desapareceu no meio da noite, só voltando dias depois, muitos dias, encontrando a mãe aflita:
Meu filho, como você faz uma coisa dessa, sua esposa está chorando!
Shhh! Eu vim só pegá o violão!
Mais sobre Zé Brasil aqui.