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Retiraram Machado de Assis da sala de aula

A nova cretinice de nossa educação e de nossa inteligência literária é desprestigiar o nosso maior escritor!

*Alexsandro Alves

[email protected]

 

Mais um peça desconstruída na educação brasileira, e uma peça importante.

A USP retirou Machado de Assis de seu vestibular. Agora, os candidatos lerão autoras redescobertas e contemporâneas.

Só no Brasil se abandona com tanta felicidade e autoconfiança o passado – a memória!

Caso não seja isso, retiram o maior romancista brasileiro, o maior escritor brasileiro, do principal vestibular por quê?

Acaso a manutenção de Machado impede algo? Não se pode incluir essas novas autoras e mesmo assim preservar o autor de Dom Casmurro?

Para as mentes brilhantes daquela universidade, não.

E por que não?

Porque a meta é ferir de morte todo o nosso passado. É se vingar daqueles escritores que não abordaram, em seus livros, questões como escravidão, que não se posicionaram com clareza sobre determinados assuntos.

Não fizeram isso com Otto Maria Carpeaux? Aquele “esnobe que falava de tudo”. Não confinaram Gilberto Freyre aos porões das universidades por ser de ideologia diferente da que domina por lá? Não fizeram isso com Clarice Lispector? Sua literatura foi tida como alienada e burguesa por não tratar de política e por ser uma literatura intimista e não panfletária. Agora estão “redescobrindo” Clarice – mas não por ser escritora, mas por ser “mulher”. Tentaram com Jorge Amado, quando ele abandonou o Partido Comunista após descobrir o que ocorria na União Soviética, o veredicto da vingança da crítica engajada foi: “um escritor de putas” .

É vingança.

Também é o desejo de desformar leitores.

E também é a miséria em que a nossa literatura e a nossa educação estão atoladas, o lamaçal da política que por esses tempos reponde pelo nome de “movimentos sociais”.

Por que no Brasil se mistura tudo.

E também porque literatura e educação viraram hobby de político despreparado e inculto. (Aqui mesmo em Natal e no Rio Grande do Norte, quando algum apadrinhado precisa de emprego mas é um preguiçoso sem futuro, diz-se “manda pra Funcarte ou pra FJA” ou então, lotam de cargos comissionados caríssimos a Secretaria Estadual de Educação).

Observem a pobreza literária e estética em que Natal se encontra. Comprimiram e esmagaram os artistas nas prensas da politicagem, “os editais”.

Agora se inicia a coroação da mediocridade. Pelos próximos anos, Machado de Assis não será mais lido nas escolas.

Viva, Paulo Freire! Afinal, para se aprender a ler, primeiro se aprende sobre cor da pele, gênero e classe social. Agora teremos apenas escritoras pretas e periféricas.

Machado era preto, mas sua linguagem era a do branco das elites, refinadíssima, ele não falava “a linguagem do aluno” ou “a língua do povo preto”…

No Brasil, o cultivo de si é uma ofensa social. Deve-se nivelar sempre por baixo. Machado, clássico, é inacessível. Solução? Apaguem Machado!

 

Obs.: a USP informa que em 2029 Machado retornará ao vestibular da instituição. Ora, mas como? Em 2029 se descobrirá que os livros não machadianos são os mais lidos! Com a divulgação de pesquisas midiáticas, se resolverá adiar o retorno de Machado! Simples assim.

Obs.²: também se descobrirá que livro é coisa da elite e será a vez dos quadrinhos ocuparem espaço na USP, de preferência quadrinho sem muitas palavras…

Obs.³: os quadrinhos, com o tempo, serão substituídos por outdoors.