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Retrato falado de Anderson Tavares de Lyra

Macaibense ilustre, historiador, escritor e professor, presidente do Instituto Tavares de Lyra, em homenagem a um dos nossos primeiros historiadores e político, responde à serie editada pelo Fundador de Navegos. Colaborou com Anna Maria Cascudo Barreto na elaboração da biografia do coronel Francisco Cascudo, seu avô paterno.

*Franklin Jorge

Quando nasceu?

Numa sexta-feira, chuvosa e fria, às 7h da manhã do dia 30 de maio de 1980.

Onde?

Na Rua Dr. Pedro Velho, em Macaíba/RN.

Como se chamam seus pais?

Ângela Maria Tavares da Costa (Funcionária Pública) e Josias Evangelista da Silva (Engenheiro Eletricista).

De onde são?

Macaíba/RN.

O que você herdou do seu pai?

Meus pais se separaram muito cedo, de maneira que não tive convivência com meu pai. Meu avô materno foi a presença masculina. Um homem bom, sertanejo do Acari, trabalho e pela honestidade, eram a sua divisa. Meus tios avôs também são referências muito importante na minha vida e dos quais herdei a disposição para o trabalho.

E de sua mãe?

Minha mãe sempre trabalhou muito e passava o dia todo fora de casa como chefe do cartório eleitoral local. Fui criado por tias-avós e por antigas babás que estavam ligadas a nossa família havia anos. Mas tenho de minha mãe o gosto por coisas naturais, especialmente chás. De minhas tias o gosto e a vontade de estudar. E de minhas antigas cuidadoras, o interesse pela cultura local, através das histórias que escutei diversas vezes.

Dê-me fatos para esclarecimento de heranças?

Uma de minhas cuidadoras, Chica, me contava histórias da cultura local que foram a base de minha curiosidade inicial sobre a minha terra e a minha gente. Uma tia-avó Joana D’arc, funcionária da Fundação José Augusto, trabalhou muito tempo na organização da biblioteca de Câmara Cascudo, ainda quando a mesma estava no casarão da Junqueira Ayres, para onde eu quase sempre me dirigia, ao sair do Colégio Imaculada Conceição, para encontrar com minha tia e retornar a Macaíba e conversar com d. Dhalia, com Anália e com Cotinha. Pastel e coca-cola não faltavam….

Quem é você?

Professor, historiador, escritor – tenho os livros: Augusto Tavares de Lyra em vários tons, Teotônio Freire: fragmentos de um legado, em parceria com Anna Maria Cascudo, e organizei o Macaíba de cada um: antologia de crônicas, lançado ano passado pela Academia Macaibense de Letras e a Z Editora. Sou um apaixonado por educação e por cultura.

Mais fatos?

Aos quatro anos de idade conheci Luiz da Câmara Cascudo numa visita com familiares. É uma das memórias mais antigas que tenho. Aos oito anos de idade, recebi meu primeiro livro de presente, São Francisco de Assis e o Brasil, de minha bisavó do coração, a escritora Sophia A. Lyra. Aos 12 anos, comecei a ler tudo que me chegava sobre o Rio Grande do Norte e Macaíba. O interesse surgiu a partir da série “Personagens da História de Macaíba em quadrinhos”, editados pela prefeitura de Macaíba, gestão Odiléia Costa. Procurei antigas famílias e personagens da cidade, para aprofundar as histórias que lia. Conversei, tomei nota de tudo, hoje, meus registros dessa época são únicos e norteadores.

E sua infância?

Minha infância foi tranquila numa Macaíba ainda com os últimos resquícios de cidade bucólica e calma. Saia de casa para a escola primária, aulas particulares, ajudar no enterro de anjinhos e a missa no domingo pela manhã, na matriz de Nossa Senhora da Conceição. Brincadeiras restritas, sozinho. Depois, andei toda a cidade de Macaíba de bicicleta e a pé com amigos que conservo até hoje. Joguei bola (muito ruim) e vôlei (melhor). Não aprendi a nadar. Desde cedo ando de cavalo e já derrubei boi na juventude. Ainda criança de 12 anos, já era pesquisador da história local. Monarquista aos 13 anos. Sem poder votar, andava pela feira de Macaíba distribuindo panfletos na tentativa de fazer as pessoas “votarem no Imperador”, no plebiscito daquele ano. Adolescente, introspectivo, nunca bebi, nem fumei, e frequentei poucas festas, sempre sem dançar, pois nunca aprendi.

Como brincava?

Filho único, minhas brincadeiras, a princípio, eram solitárias e restritivas, vídeo games, brinquedos dos anos 80; jogava xadrez e dama. Em seguida, participei de vaquejadas nas fazendas da família, junto a meus primos e primas.

Quando deixou sua terra?

Em 2010. Sem a menor perspectiva de trabalho em Macaíba, devido a questões políticas, retirei-me para a cidade de Natal, onde cursei o mestrado e o doutorado em Educação na UFRN e passei a residir.

Que coisas tem feito?

Ensino História no Ensino Fundamental em São José de Mipibu e em São Gonçalo do Amarante, professor universitário na Universidade Estadual Vale do Acaraú. Constantemente em pesquisas diversas, com mais atenção para a História e a Genealogia. Descobri recentemente a comprovação que a família Medeiros do Seridó é descendente direta de antigos judeus, fato que tem ensejado a muitos potiguares a receber a cidadania portuguesa e espanhola, depois dos devidos processos que começam com a genealogia. Administro o Instituto Tavares de Lyra que em convênio com a UFRN, departamento de História, tem digitalizado o acervo do escritor e político Augusto Tavares de Lyra e disponibilizado para pesquisadores. Aliás, não só o dele, mas o de Pedro Velho e de outros personagens da nossa história. Estou presidente da Academia Macaibense de Letras, desde o ano de 2017, e como tal tive a oportunidade de inaugurar em 2019 a Biblioteca “Acadêmico Ivoncísio Meira de Medeiros”, composta do acervo particular do patrono e da biblioteca particular do Prof. Dr. Walner Barros Spencer. Aberta ao povo de Macaíba.

Em destaque, o Cais Tavares de Lyra, Ribeira, Natal; arquivo do Instituto Tavares de Lyra. Acima, o historiador Anderson Tavares de Lyra.