*Franklin Jorge
Quando nasceu?
Desembarquei nesse mundo no dia 13 de julho de 1950.
Onde?
Na boa terra goiana, em Aloândia. Na terra Brasílis, no vasto chão deste mundo.
Como se chamam seus pais?
José Felício dos Santos e Divina Carneiro da Silva.
O que herdou de seu Pai?
Coragem e confiança na vida, que procuro honrar em todas as circunstâncias, na poesia e nas intempéries dos instantes.
E de sua mãe?
A capacidade de ruminar momentos, guardar silêncios. E o olhar alongado, meditativo, por vezes, querendo entender os mistérios deste e de outros muitos mundos.
Quem é você?
Ainda estou buscando saber quem de verdade eu sou, ou quem sou eu. Tantas vezes me vejo em mudanças, que não posso lograr sucesso em me conhecer. Tanto assim que às vezes me estranho, não suportando conviver com alguns dos meus comigos. Na verdade, eu não me conheço. Minha mãe e meu pai não me conheceram completamente, e eu mesmo não me conheço. E se me desvendasse completamente, sairia correndo, de medo.
Dê-me fatos sobre esclarecimentos de heranças.
Sou marcado pela curiosidade intelectual do meu pai, e a ternura cantante, bem como o amor à vida, da minha mãe. Sonhava ser jogador profissional de futebol. Mas o futebol e o meu porte físico foram poucos, meu pai me desaconselhou em enveredar nessas trilhas, falou que o futuro do mundo estava na cultura e nos livros. Então, com uma máquina de escrever (das antigas, de marca Singer) que ele me deu, enfiei a cara no mundo das palavras. E dele nunca mais saí. Nenhum registro de propriedade, com registro sonante em cartórios ou bancos.
E sua infância?
Tranquila e cheia de aventuras, espantos e descobrimentos e alumbramentos – como pode ser a infância de um menino suburbano dos tempos antigos. Porém, às vezes penso que já nasci sendo um velho. Os que me conhecem mais a fundo, dizem isto.
Mais fatos
Demais fatos estão relatados nas centenas de poemas e contos escritos. Muitos dos quais são indescritíveis, intransferíveis do momentum criativo em que foram produzidos. Talvez em alguns poemas do meu livro “Hotel do Tempo”, eu tenha dito quase tudo. Ou em outro livro meu, “A dor das coisas”, onde cito Santo Agostinho: “A vida é dor, e a dor é tudo. Nascemos entre fezes e urina”. E, finalizando o poema: “Nunca mais esquecerei/o que perdi para sempre/E isso dói/doerá eternamente/”.
Quando deixou a sua terra?
Deixei minha terra natal quando parti para as bandas do planeta potiguar, indo morar em São Bento do Norte, a 150 quilômetros da cidade do Natal. Ali passei a residir, a partir de 2005, administrando a Pousada do Farol, que no cartório consta como sendo propriedade minha. Para este lugar mágico (quase uma Macondo potiguar) estou sempre indo e voltando. Tanto assim que segundo Franklin Jorge, me tornei potigoiano, como ele próprio é.
Em São Bento do Norte escrevi os livros “Vozes do farol” e “Outras vozes do farol”. Há outro em preparo, sendo finalizado. Título: “Caminhos do farol”.
– como menino de rua, nascido e vivido na periferia da cidade de Goiânia, joguei futebol, finca, brinquei de salve-cadeia, de fazer caveira com mamão (uma vela acesa sendo colocada dentro) para assustar os passantes. Aprendi a nadar (nado de sobrevivência) em córregos e rios da minha cidade.
Que coisas tem feito?
Venho lendo e escrevendo muito. Mesmas coisas que venho fazendo há tempos. Além de colecionar espantos, acumulando desilusões quanto à esperança de vir a ser preservado o potencial de bondade, que é parte essencial da criatura humana.