*Franklin Jorge
Quando e onde nasceu?
Nasci em Lavras da Mangabeira (CE), uma velha e lendária cidade do sul do Ceará, aos 14 de setembro de 1956, de onde eram naturais os meus pais, que eram primos em primeiro grau e descendentes de pequenos proprietários rurais daquela região. Vim ao mundo no Sítio Calabaço, e dois anos depois a minha família mudou-se para a sede urbana do município, onde iniciei os estudos, em 1966, com a professora Elma Férrer de Almeida, ali realizando os cursos primário e ginasial.
Como se chamam seus pais?
José Zito de Macedo (Zito Lobo, agricultor, pecuarista e poeta popular) e Maria Eliete de Macedo, sendo ele filho do cordelista Antônio Lobo de Macedo, o qual, com o pseudônimo de Lobo, tornar-se-ia uma das legendas da poesia sertaneja e do folclore do Nordeste, sendo elogiado, inclusive, por Câmara Cascudo.
O que você herdou do seu pai?
Do meu pai eu herdei a humildade, a simplicidade, a espiritualidade, uma grande sensibilidade e a virtude de viver em harmonia e serenidade com a família e as demais pessoas.
E de sua mãe?
A determinação, a paixão pela memória e a história, a capacidade extraordinária de lutar pela vida e a liberdade, a emoção à flor da pele, a inteligência e as virtudes da compaixão e do amor.
Dê-me fatos para esclarecimento de heranças.
Acredito que a minha opção de ser escritor seja uma herança dos estigmas que meus pais legaram à minha sensibilidade e à minha memória. Tendo um pai e um avô dedicados à poesia popular, e uma mãe tão obstinada com a educação dos filhos e o futuro da família, isso constituía um incentivo para que eu pudesse desdobrar as minhas linguagens e os traços da minha visão interior.
Quem é você?
Um ser humano hipersensível, radical com a transparência das coisas, cidadão que vigia a conduta da política, que ama a liberdade, que não se envolve com os extremos ideológicos, que acredita na social democracia, que participa da política cultural, que sofre com as injustiças e que acredita na força transformadora da educação e da literatura.
Como foi sua infância?
Um pouco sem muita novidade. Infância de menino recluso em sua residência, tímido, quase sem amigos, sonhador, cheio de inquietações, mistérios e complicações com a vida.
Mais fatos sobre sua infância.
Os fatos relacionados com a minha infância estão envoltos pelas coisas da lavoura e da agricultura familiar, pelos remansos e mistérios das águas do Rio Salgado, que corria próximo à nossa casa, pelas lembranças da Rua da Praia, o lugar que me deixou marcas inesquecíveis.
Como brincava?
Brincava, às vezes, de peão, de jogo de peteca, de esconde-esconde, de amansar os carneiros que o meu pai, de tempos em tempos, me destinava para os rodeios com os meus irmãos. Na maior parte do tempo, eu sonhava, entrava em viagens imaginárias e espirituais, sonhava com o óbvio, mas óbvio parecia sempre uma coisa estranha e distante.
Quando deixou sua terra?
Deixei minha terra em novembro de 1972, quando viajei de trem para Fortaleza, acompanhado pelas minhas irmãs mais velhas, com a missão de ser alguém na vida, como desejava a minha mãe, que não teve condições de prosseguir seus estudos, assim como o meu pai.
Que coisas tem feito?
Depois da aposentadoria, em 2018, tenho lido muito, especialmente os clássicos da literatura, organizado os meus muitos escritos, reexaminado os meus erros como escritor e as minhas ambições literárias que se estão dissipando. Tenho revisitado as praias do Litoral cearense, uma das minhas grandes paixões, e tenho sonhado com a esperança e a fraternidade.