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Retrato falado de Lysia Condé

Mineira devotada à família, ao canto e à música, nossa entrevistada é mulher de rara sensibilidade e se conta entre os nossos artistas mais talentosos e personalíssimos. É com prazer que lhes apresentamos Lysia Condé.

*Franklin Jorge

[email protected]

Quando nasceu?

Em 22 de agosto de 1973

Onde?

Rio Pomba, MG

Como se chamam seus pais?

João Nunes Condé e Manuela C. dos Reis Condé

O que herdou de seu pai?

Retidão de caráter e o prazer de cantar.

E de sua mãe?

As habilidades manuais e artísticas foram aprendidas no convívio do ambiente familiar. Minha mãe sempre demonstrou habilidades para as diversas artes. Costurava para clientes, cortava cabelo da vizinhança, fazia e decorava bolos de casamento e aniversário que eram obras de arte, confeccionava artesanato e objetos de decoração para nossa casa, além de cantar também. Apesar de não participar ajudando nessas atividades, eu aprendia observando minha mãe fazer. Da mesma forma, eu aprendi com ela a amabilidade e simpatia com que se aproximava das pessoas. Sempre com um sorriso acolhedor.

Quem é vc?

Sou mulher, mãe, de profissão cantora, atenta à minha coexistência nesse tempo/lugar. Um ser em permanente busca de autoconhecimento e evolução em minha humanidade. Uma eterna aprendiz.

Dê-me fatos para esclarecimentos de heranças.

De meu pai, o prazer e a experiência de cantar se configurou desde minha infância, nas reuniões familiares em que meu pai e familiares comandavam as cantorias. A retidão de caráter sempre veio do exemplo, do qual valores como honestidade, verdade e respeito se faziam presentes em atos e palavras.

Certa ocasião, na minha infância, lembro-me de brincar na rua com outras crianças de jogar pedra na lona de um caminhão estacionado próximo à minha casa. De repente, ouvimos a pedra atingir pela janela o interior da casa onde se encontrava estacionado o caminhão. Todas as crianças saíram correndo com medo da represália, mas eu fiquei sozinha e assumi a responsabilidade para o dono da casa, o qual, diante da minha sinceridade e honestidade, só me pediu para parar a brincadeira e sair dali antes que a esposa dele soubesse. Eu me lembro de ter me sentido bem por ter dito a verdade. E isso eu aprendi em casa.

Como brincava?

Brincava na rua com outras crianças com jogos diversos de correr, se esconder, adivinhar, pegar, etc. Com bola, perna de pau feita de bambu, sapato de lata, carrinho de rolimã, escorregar em morros com folha de palmeira, nadar em rios e piscinas, bola de gude, bola de meia, etc. Subia em árvores, brincava de casinha em cima das árvores, andava de bicicleta livremente pelas ruas, pulava corda, elástico, soltava pipa, pião, fabricava roupinhas para bonecas, fazia comida de verdade (angu doce) para as bonecas, comia frutas colhidas no pé, brincava em cabanas de bambu que meu irmão construía no quintal, brincava com carrinhos na mini cidade que meu irmão construía, de sucatas, dentre muitas outras brincadeiras.

Como foi sua infância?

Na minha infância, alguns acontecimentos foram muito marcantes.

Um desses foram os piqueniques que meu tio Mário organizava em todas as férias com as crianças da família (eram 27 primos!) A cada ano ele nos levava para passeios incríveis em diferentes localidades da zona rural da minha cidade.

Ainda nas férias entre primos, inesquecível também nossas brincadeiras na casa da minha avó materna e no quintal encantado da casa do tio Chichico. Era uma chácara dentro da cidade, onde brincávamos sob inúmeros pés de frutas, subíamos em árvores e contávamos as mais fantásticas histórias.

E, por último, marcou-me também as apresentações artísticas e teatrais que fazia junto de amigos da vizinhança e que apresentávamos para nossos pais e familiares, cobrando ingresso.

Mais fatos.

Tive uma infância muito rica em experiências e liberdade, pois cresci numa cidade pequena do interior de MG, numa época e contexto onde a rua e os quintais das casas eram os espaços mais valorizados para brincar. Nesses espaços eu assimilava regras de convívio com crianças da mesma idade e mais velhas; explorávamos todos os recursos que a natureza nos oferecia, criando e interagindo com plantas e animais; exercitávamos nosso físico até o limite de nossas forças. Uma infância extremamente feliz de ótimas recordações.

Quando deixou sua terra?

A primeira vez que saí da minha cidade foi aos vinte anos para cursar Ciências Sociais no município vizinho de Juiz de Fora. Mas todo final de semana eu retornava para minha casa. Anos mais tarde, eu me mudei para Niterói, RJ, para fazer o mestrado em Antropologia. No meio do curso retornei para minha cidade e residi lá por um ano. Em 2002, saí novamente para trabalhar no Rio de Janeiro e não mais voltei a morar em minha cidade de origem. De lá me mudei para Natal, RN, em 2007 e fiquei até o início deste ano de 2020 quando me mudei novamente para o Rio de Janeiro.

Que coisas tem feito?

Nesse contexto atípico da pandemia, tenho feito gravações musicais de vídeos com parceiros e participação em lives e festivais virtuais. Tenho também revezado os cuidados com meus pais idosos em quarentena e tenho respeitado junto com minha família, o isolamento social e confinamento necessários para nos protegermos e aos outros.