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Retrato falado de Marcílio Medeiros

Mais preocupado em divulgar a obra dos outros do que a própria, vive atualmente em Aracaju, como servidor concursado com no governo. Como um amante da instabilidade, não teme pedir demissão dos cargos que tem ocupado, o que o fez amealhar grande experiência em vários segmentos. Disse que aio chegar a Natal teria ficado meio perdido se o Fundador de Navegos não o tivesse introduzido no meio cultural da cidade. A entrevista que aqui publicamos é de 200 e foi feita para O Santo Ofício.

*Franklin Jorge

[email protected]

Quando nasceu?

1965

Onde

Caicó – RN

Como se chamam seus pais?

Pedro Militão Soares de Brito e Maria do Socorro Medeiros Brito

De onde são?

Meu pai é de Caicó e minha mãe, de São João do Sabugi – RN.

O que você herdou do seu pai

A persistência e a disciplina necessária a ela.

E de sua mãe?

Perfeccionismo, senso estético e uma boa educação.

Dê-me fatos para esclarecimento de heranças.

Como aluno e profissional, meu pai teve uma trajetória de etapas sempre regulares, sem retrocessos, guiado por uma clareza surpreendente dos próprios propósitos. Aluno destacado, entrou, sem dificuldades, na Faculdade de Medicina da Universidade do Recife (hoje Universidade Federal de Pernambuco – UFPE). Ele sempre valorizou muito o interesse pelos estudos, era exigente com os filhos em relação a isso e vibrava com o sucesso deles.

Quando retornou a Caicó, após a conclusão do curso universitário, trabalhou nos municípios de Serra Negra do Norte, São João do Sabugi, Florânia e Caicó> Neste último, atuou no Hospital Seridó e na Maternidade Mãe Quininha, além de ensinar no Centro Educacional José Augusto – CEJA (antigo Instituto de Educação). Era empreendedor, atuando ainda como médico particular e como fazendeiro. Não foi à toa que, quando morreu, tantos poderosos lhe deviam dinheiro. No meu caso, acumular riqueza nunca foi uma meta de vida, mas sou irremediavelmente persistente.

Minha mãe, desde jovem, participava de representações teatrais, gostava de música e de participar dos acontecimentos festivos. Vê-la tocar e cantar despertou em mim o interesse pela arte, que, mais tarde, se expressou na minha produção poética. Além disso, é persegue ordem e beleza em tudo que faz. De estilo discreto, é elogiada pela educação e serenidade.

Meu bisavô materno foi escritor e meu avô paterno, jornalista.

Quem é você?

Um ser humano dual, com várias forças colidentes habitando-me, capaz de grandes abismos, tanto os que levam à criação quanto os que conduzem a espaços escuros e insondáveis. Sou, ao mesmo tempo, comunicativo e introspectivo, tímido e ousado, realizador e niilista, sério e infantil, coletivo e solitário, com uma aparência bem comportada e uma mente questionadora, que odeia o conformismo. Alguém sempre inconcluso.

Mais fatos.

Por conta dessa inquietude e por não aceitar que as coisas que tem que ser de determinada forma para manter o status quo de pessoas e grupos, já me meti em várias querelas. Fui suspenso do colégio por estar metido, quando adolescente, no movimento estudantil. Desafiei alguns professores na universidade. Era representante dos alunos e ganhei desafetos. Briguei no trabalho por defender pessoas simples contra humilhação. Debati-me contra artistas preconceituosos.

Continuo em guerra com os que não querem que nada de novo aconteça, para que não seja revelada a sua própria mediocridade. Essas pessoas são como o sapo do poema da Marquesa de Alorna, que, ao devorar o pirilampo, este pergunta-lhe: que tens tu de que me acuses?… e o sapo responde: por que luzes?

E sua infância?

Antes de ir morar no Recife, tive uma infância mais presa. Lá, no entanto, tive a minha fase de moleque, que foi maravilhosa. Na rua em que morava, haviam muitas crianças e vivíamos em constante interação. Todos os anos, íamos, nas férias de junho e dezembro, para a terra de minha mãe, da qual tenho ótimas recordações e que continuo visitando anualmente.

Como brincava?

De polícia e ladrão, de trinta e um, alerta! (espécie de esconde-esconde), de detetive, de queimado, de jogo de botão, de forte apache, de andar em cima de murro (era uma mania).

Um dos melhores presentes que ganhei foi uma espécie de jogo, algo como ‘o pequeno laboratório’, que vinha com substâncias químicas para fazer experimentos. Queria ser cientista. Ah, brincava de médico também… rsrsrs.

Paralelo a isso, gostava de ler e de ouvir música em uma minúscula vitrola que me fora dada de aniversário. Também tive uma vida boêmia precoce. Chantageava minha mãe e ela me deixava ir, à noite, a bares e boates com os adultos.

Hiperativo, sempre inventava alguma coisa para fazer, mas nunca estava parado.

Quando deixou sua terra?

Saí de Caicó aos quatro anos. Fiquei dois anos em Natal. Depois, minha família transferiu-se para o Recife, onde fiquei quase trinta anos.

Que coisas tem feito?

Atualmente, sou especialista em políticas públicas e gestão governamental do Governo de Sergipe, atuando como gerente de apoio e fomento à pesquisa científica. Voltei a escrever, após um período praticamente árido, que começou com a minha saída de Natal em 2002. Tenho publicado regularmente na imprensa. Os últimos poemas saíram na Germina – revista de literatura e arte (julho), no Correio das Artes da Paraíba (edição deste mês), e na página de Luís Nassif (SP) e no Substantivo Plural de Tácito Costa (RN), nos meses de agosto e julho, respectivamente.

Escrevo diariamente no Vida Literária http://marciliomedeiros.zip.net/ e, no Liras, Musas & Aedos http://marciliomedeiros.blogspot.com/ , publico, também cotidianamente, um poeta nacional ou estrangeiro. Essas páginas na web foram uma forma de me sentir vivo de novo, fora da burocracia do dia-a-dia.Continuo acreditando que tão importante quanto escrever é realizar projetos pela literatura.