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Retrato falado de Sheyla Azevedo

Jornalista, psicanalista e escritora, faz Sheyla Azevedo mestrado em Ciências Sociais na UFRN. Amante de gatos, percebe a vida com argúcia, delicadeza e entusiasmo, virtude que segundo Baudelaire define o talento. Foi assessora de imprensa do senador Paulo Davim e masntém o blogue Bicho esquisito. Mantém o blog Bicho Esquisito e dedica-se à criação de peças artesanais que revelam a exigência por qualidade que a caracteriza como artista e mulher.
*Franklin Jorge

*Quando nasceu?

Nasci no ano da graça de 1974, num dia chuvoso, em 17 de abril, às 23h30.

*Onde?

Na Maternidade Elpídio de Almeida, em Campina Grande (PB)

*Como se chamam seus pais?

Dulce e Ercílio

*De onde são?

São da Paraíba também. Ela do Ingá e ele de Serra Redonda.

*O que você herdou de seu pai?

Herdei a aparência física. E uma certa raiva incontida pela vida, pelas injustiças do mundo, que eu tento transformar – nem sempre consigo – em movimentos de ternura.

*E de sua mãe?

Herdei o amor à família. E o exercício cotidiano de manter essa difícil tarefa de amar a quem é muito próximo.*Quem é você?

Não sei direito! Estou em construção. Sou um bocado de passado. Um presente afirmativo e um futuro esperançoso. Quaisquer outras palavras que forem ditas poderão modificar essa arquitetura de maneira irrevogável. E que assim seja, se assim for!*Quando deixou sua terra?

Fui trazida para Bom Jesus (RN) aos 4 anos. Desde então, esse Estado é a minha terra. Faz parte da minha redenção e do meu calvário.

*E sua infância?

Minha infância foi atravessada por grandes dores e perdas. E é por isso que as lembranças felizes têm tanta importância: lembro que minha avó me balançava na rede. Essa é a lembrança mais doce que tenho da infância. Depois, lembro que ela desenhava cachos perfeitos nos meus cabelos molhados e, toda tarde, me servia chá de erva cidreira com broa de milho. Antes de eu eu ir brincar e antes de começar a serenar e eu ter de voltar pra casa.*Como brincava?Adorava brincar de boneca, fazia roupas de boneca; brincava de cozinhado; ía sozinha para a biblioteca da Cidade ler Fernão Capelo Gaivota – ler para mim também era uma brincadeira – e conversar com Francisquinho, um poeta que escrevia sem palavras. Sou filha única, então brincadeiras silenciosas faziam parte do meu cotidiano. E, no silêncio, a imaginação grita!

*De-me fatos para esclarecimento de heranças?

Vim para a capital estudar aos 13 anos. Desde então sou uma aprendiz da vida; adoro descobrir pessoas, assuntos, temas e toda sorte de fatos que elevem a minha alma para além dos pagamentos dos boletos que se acumulam no final do mês. Fiquei por conta própria muito cedo. E isso me trouxe até aqui! Mas sou uma pessoa do interior. Tenho orgulho de reconhecer o cheiro de bosta de vaca do curral e de ter sentido a lama macia nos pés, nos banhos de açude, antes de ter aprendido a manusear as máquinas de ilusões do século XX.

*Mais fatos

Aos 16 anos eu entrei para a ETFRN e conheci uma turma de jovens – como eu que – que andava com livros debaixo do braço e muita poesia para ser vivida. Desse tempo, guardo amizades sólidas e importantíssimas e o alicerce para minhas escolhas laborais, assim como também para a percepção irrevogável de que sou, em essência, uma escritora. Com todas as dores e delícias que isso nos impõe.

*Que coisas tem feito?

O fim do mundo revelou-se bastante cruel para quem tem de trabalhar remotamente. Não existe horário ou regulação para quem tem um computador e internet em casa. Tenho trabalhado sobremaneira. Assim como tenho tentado manter minhas leituras de trabalho em jornalismo e em psicanálise, meus dois veios de escoamento de sobrevivência. No campo dos estudos, entrei para o Mestrado em Ciências Sociais (UFRN), e estou tendo a honra de ser orientanda do professor Alex Galeno e de poder trabalhar o tema da felicidade e do mal-estar na civilização. Queria dizer da minha honra de fazer parte desse seleto grupo dessa sua “embarcação”, Franklin. Agradecida pelo convite.
Em destaque, Sheyla Azevedo; acima, a capa de seu ensaio biográfico sobre Newton Navarro.