*Franklin Jorge
Quando nasceu?
Em 05 de maio de 1952.
Onde?
Numa pequena cidade do Sertão Central do Ceará, Senador Pompeu, conhecida por ter acolhido em um campo de concentração (currais do governo) aproximadamente seis mil sertanejos, na seca de 1932, e em suas terras terem sido enterrados mais de dois mil corpos moribundos.
Como se chamam seus pais?
Audísio Vieira do Nascimento 1922/1972 (in memoriam) e Elvira Custódio do Nascimento 1920/2017 (in memoriam).
O que herdou de seu pai?
Herdei a garra para o trabalho. Meu pai apesar de ter completado apenas o curso primário na sua pequena cidade, era considerado pela comunidade um excelente engenheiro, agrônomo, contador e um estudioso de leis. Era atleta e imbatível no jogo de gamão, dama e xadrez. Eu, assim como ele, fui atleta e herdei também o gosto pelo esporte. Vez por outra, assim como ele, ouso aprender mais e desvendar outros mundos.
E de sua mãe?
Segui seus passos de professora. Gostaria de ter herdado de minha mãe; a calma, a generosidade e a beleza.
Quem é vc?
Certa vez, o poeta Eduardo Gosson fez-me essa pergunta e eu respondo da mesma forma. Cada dia vejo-me diferente. Ontem, acordei como trovadora.
Portugal é meu caminho,
deixei lá meus devaneios.
Volto pra’s bandas do Minho,
cheia de sonhos e anseios.
Hoje, despertei e quis curtir meus netos Vitória e Gabriel. Amanhã, talvez acorde como uma escritora preocupada com a postura e o papel da mulher nessa sociedade. Talvez, depois de amanhã, acorde querendo ler Neruda ou fingindo ser uma poetisa. O que me faz lembrar o poeta lusitano Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.
Dê-me fatos para esclarecimento de heranças.
Meu tio era um incansável leitor e cuidava dos livros da biblioteca municipal, mas foi com minha babá Baía, uma contadora de histórias, que passei a desenvolver empatia, a me ver no lugar do personagem e a aprender a entender outras realidades. Baía, analfabeta e indígena, instigou o meu lado social, cognitivo e afetivo com suas contações de histórias. Assim, herdei desses ancestrais o gosto pela leitura.
E sua infância?
Desde pequena sempre gostei de ler. Apesar de ser filha de professora, havia poucos livros infantis na minha casa. Assim, eu fugia para a biblioteca do colégio de freiras e me deliciava com a leitura das “Reinações de Narizinho” de Monteiro Lobato, os contos do turco “Nasrudin”, dos “Irmãos Grimm” e histórias do Barão de Munchausen.
Como brincava?
De todas as brincadeiras da época. De pular macaca, queimada, pega-pega e de fazer teatro. Eu cresci querendo ser artista. Aos doze anos, escrevi uma peça de teatro e apresentei com os primos para os moradores na fazenda onde passávamos férias, mas não logrou sucesso, pois não houve tempo para os ensaios.
Mais fatos
Apaixonei-me por literatura de cordel aos 10 anos, quando um vizinho declamou o “Pavão Misterioso”, de José Camelo de Melo e João Melquíades Ferreira e a “Historia da Donzela Teodora”, do cordelista Leandro Gomes de Barros. A partir daí, me encantei por aquela narrativa em forma de poesia e rima.
Quando deixou sua terra?
Fiz o curso primário no colégio Cristo Redentor e Nossa Senhora das Dores em Senador Pompeu e mudei-me para Fortaleza aos 13 anos onde terminei o segundo grau no Liceu do Ceará (1970). Cursei por três anos a Faculdade de Direito na Universidade Federal do Ceará (UFCE). Casei-se em 1974 e fui morar no Rio de Janeiro. Voltei para o Nordeste e terminei, em 1980, o curso de Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Habito essa terras potiguares desde 1976.
Que coisas tem feito?
Depois da aposentadoria como professora do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, enveredei pela literatura. Em 2016, escrevi o romance “O bálsamo” mesclando ficção e realidade pela Editora Chiado (Portugal) o qual foi duplamente premiado. Em 2017, recebi um troféu pelo primeiro lugar alcançado como trovadora da União Brasileira de Trovadores de Juiz de Fora/MG. Em 2018, lancei os cordéis “Herança da Diáspora Africana” pela Editora Areia Dourada/SP e uma glosa de gracejo “O Valente Mendonça”. Em seguida, o livro infantil bilíngue em quadras “A Vida Colorida de Vitória”, editora Karuá/CE e, em 2019, “Vitória vai à feira” pela editora Trairy/RN. Em 2020, “O baú de Filomena” venceu o concurso literário da Editora CJA na categoria novela, trazendo ao público uma narrativa densa que desvela segredos sombrios e histórias de vivências de mulheres oprimidas e de vozes silenciadas nesse contexto familiar patriarcal. Tenho participado com poemas, crônicas e contos para algumas antologias nacionais e internacionais. Estou presidente da União Brasileira de Escritores (UBE/RN), biênio 2020/2021.