*Franklin Jorge
Quando nasceu?
Em 1941.
Onde?
Sorocaba, SP
Como se chamam seus pais?
Chamavam-se: Fortunato Solha e Ermelinda Emílio Branco Solha
Onde nasceram?
Eram de Campinas e Cosmópolis, no interior paulista
O que você herdou do seu pai?
A seriedade e o trabalho, supunho.
E de sua mãe?
O amor à leitura
Dê-me fatos para esclarecimento de heranças.
Eu às vezes acordava de madrugada com os rumores de meu pai saindo para o trabalho. Ele era carpinteiro da Estrada de Ferro Sorocabana. Encantava-me saber que todos os móveis de minha casa tinham sido feitos por ele, também as portas, janelas e os forros. Encantava-me, mais ainda, vê-lo – nos fins de semana – fazendo brinquedos – para mim e para meu irmão – já que não tinha dinheiro para comprá-los. Dessa operosidade veio, acredito, o hábito, vigente apenas no sertão paraibano, de escrever até a meia-noite e de ler a partir das três da manhã, pois o dia todo me era exigido no BB, onde fui chefe da carteira agrícola e, depois, subgerente. Os primeiros romances que li foram de Max de Veuzit e Magali, de que minha mãe gostava muito. Em Pombal, como ela – que devorou toda a biblioteca da Estrada de Ferro Sorocabana – degluti todo o Shakespeare, Tolstoi, Dostoievsky, Graciliano e Guimarães Rosa, Jorge Amado e Zé Lins. Nos últimos dez anos de banco, tive de deixar de almoçar para ter um tempinho a mais para ler.
Quem é você?
Alguém que conhece todas as próprias limitações em várias atividades: ator mediano, pintor muito fraco, dramaturgo sem toda a carpintaria necessária, esforçado escritor que jamais vai “chegar lá”. Escrevo, mas com a angústia de ver todos os meus livros anteriores já esquecidos e sentindo que o que vem por aí não tem como me trazer surpresas.
Mais fatos.
Minha primeira lembrança do mundo: fachos de refletores vasculhando os céus de Sorocaba, atrás de aviões nazistas. Uma das grandes emoções vividas: a dos partos em que nasceram meus filhos. Desilusões recebidas: a de saber que a Editora Ática destruíra 2.000 exemplares de A Verdadeira Estória de Jesus. A de saber que A Batalha de Oliveiros jamais foi distribuída. Nem Shake-up. A de ver que nenhuma editora aceita, mais, publicar meus romances, dois dos quais permanecem inéditos.
E sua infância?
Meu pai, que eu admirava tanto, não falava comigo. Minha mãe me batia por qualquer dá cá aquela palha.
Como brincava?
Nunca fui muito de brincar. Minha infância foi marcada pela solidão e pela leitura de muito gibi.
Quando deixou sua terra?
Quando vi que a única saída para o miserê seria o Banco do Brasil. Aí fiz concurso e só havia vagas nele, na época, no interior nordestino. Vi o mapa com as cidades disponíveis na direção geral do banco, li o nome Pombal, lembrei-me da música Maringá e disse: É aqui.
Que coisas tem feito?
Até o final de junho estava trabalhando no romance Relato de Prócula, que tinha de remeter à Funarte até 1o. de julho. Aí comecei o libreto para uma ópera armorial, que o maestro Eli-Eri Moura me solicitou. Do libreto nasceu o “Romance” de Dulcinéia e Trancoso, trinta e seis páginas de versos que estou terminando agora.