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Sabotagem à cultura natalense

Fundador e diretor de Redação de Navegos volta a criticar o secretário municipal de Cultura Dácio Galvão; desta vez, o ex-diretor da Sala Natal fala sobre o boicote do gestor a seu projeto que visava fomentar a interação cultural da capital com outras cidades potiguares e valorizar artistas anônimos locais

Franklin Jorge

Quando assumi a direção da Sala Natal, criada na segunda gestão do prefeito Carlos Eduardo Alves (2013-2018), pensei que havia chegado a hora de aproximarmos Natal do resto do Rio Grande do Norte, como capital e principal cidade do Estado.

Pensávamos contar com a colaboração do secretário de Cultura, Dácio Galvão, a quem eu estava tecnicamente subordinado. Queria levar a bom termo o compromisso com o prefeito de contribuir por uma política cultural mais cosmopolita e a um tempo capaz de reconhecer e dignificar nossos talentos anônimos.

Pensamos, sobretudo, no papel que a Prefeitura de Natal podia desempenhar nos municípios, pois cultura é uso, não pode ser contingenciada. Todos sairiam ganhando, segundo a filosofia de trabalho da Sala Natal, empenhada em consagrar o mérito e redimensionar valores, visando criar mercados e promover de fato a economia criativa.

Planejamos um grande evento multicultural em torno da exposição de uma notável série de fotografias de João Maria Alves inspirada no Castelo de Zé dos Montes, na chã da Serra da Tapuia, em Sítio Novo, no agreste potiguar, magnífica obra arquitetônica que constitui um endereço turístico-cultural por excelência. Natal mostraria, na capital do RN, essa obra deslumbrante que faz Sítio Novo brilhar e resplandecer no talento de Zé dos Montes, como o excêntrico sargento do Exército aposentado José Antônio Barreto, de 87 anos, é conhecido.

Tudo o que pensamos, na Sala Natal, foi com esse viés interativo e colaborativo, capaz de tornar a nossa cultura atuante e presente no cenário nacional. Não contávamos com a mesquinhez de Dácio Galvão, ególatra que contamina a cultura e fez a caveira do ex-prefeito Carlos Eduardo, seu benfeitor incauto que nunca reparara que tudo o que o secretário de entretenimento toca não prospera ou dá defeito.

Veja-se o caso da FliPipa, a sopa no mel que azedou e fechou para nunca mais, apesar dos recursos despendidos em um evento que provocava azia em Sonrisal, tão monótono e previsível que era. E, o que é mais grave, não interagiu com a comunidade. Foi ignorada por turistas e nativos. Apesar da sociedade com a sra. Cãindinha Bezerra, que lhe abriu os cofres da Federação das Indústrias do RN e da Confederação Nacional da Indústria, Dácio Galvão conseguiu falir o projeto que pretendia rivalizar com a Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de janeiro.

Lembro-me que sugeri ao secretário que ampliasse as ações da Fundação capitania das Artes (Funcarte), estendendo-as aos municípios da chamada Região Metropolitana ações culturais de baixo custo e alto retorno cultural e midiático, como fazer as exposições visitar, por exemplo, escolas em municípios próximos. Dácio Galvão fez ouvidos de mercador. Preferiu bloquear o próprio prefeito a vê-lo levar cultura às cidades da Grande Natal.

A exposição de João Maria Alves resultaria, além da realização de oficinas de fotografia e linguagens fotográficas, a edição de um livro sobre a obra do autor, grande repórter-fotográfico, cuja produção de alto nível clama o aplauso público. A série sobre o castelo de Sítio Novo consagraria qualquer gestão, menos a de um energúmeno.

Voltarei, neste espaço, aos projetos da Sala Natal boicotados por Dácio Galvão.

Franklin Jorge, diretor de Redação da Navegos, é autor dos livros “Ficções Fricções Africções” (Mares do Sul; 62 págs.; 1999), “O Spleen de Natal” (Edufrn; 300 págs.; 2001), “O Livro dos Afiguraves” (FeedBack; 167 págs.; 2015), dentre outros.

ARQUITETURA ISLÂMICA Fotografia de João Maria Alves do castelo de Zé dos Montes, localizado em Sítio Novo, cidade distante 111 km de Natal, que integraria a exposição itinerante projetada pelo escritor e jornalista Franklin Jorge quando dirigiu a Sala Natal; iniciada há 35 anos por um ex-militar do Exército, a construção ocupa 90% de uma rocha que fica a 400 metros acima do nível do mar, tem 150 metros de altura e 15 labirintos distribuídos em quatro andares; na nave principal, onde há inspirações de arquitetos como o espanhol Antoni Gaudí, há uma imagem de Nossa Senhora