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Sandemberg lança manifesto em defesa da Cultura Potiguar

Cultura potiguar é usada por políticos inescrupulosos, sucessivamente, sob o disfarce da benemerência, como temos visto aqui nas últimas cinco ou seis gerações de exploração por gestores que se perpetuam nos cargos com a complacência de governantes corruptos e benevolentes com a incompetência e o crime.

*Da Redação

O ator, diretor, professor e escritor Sandemberg Oliveira, conhecido e respeitado por sua luta em defesa dos nossos valores culturais, conclama os norte-riograndenses a se debruçarem sobre um problema que persiste, governo após governo, que somente se interessam por seus próprios interesses e usam os artistas e produtores culturais como garotos-propaganda, sem ganho efetivo para uma categoria que vive de pires na mão, enquanto o famigerado secretário de cultura paga a maconha que usa com dinheiro público, graças a complacência de governos indiferentes ao clamor popular.

Abaixo, na íntegra, seu manifesto:

SOS – A CULTURA DO RN CLAMA POR ATENÇÃO

O   Estado   do   Rio   Grande   do   Norte   apresenta   um   grande   atraso   no   que concerne ao fomento à cultura em todos os seus aspectos e linguagens. A falta de um Plano Estadual de Cultura encerra a pouca importância ou nenhuma dada por nossos gestores às nossas tradições, ao nosso passado como também às nossas raízes ancestrais de formação cultural, a nossa história. Sem “pai” e sem “mãe” e a partir de observações no âmbito estadual da cultura, o que se enxerga é um futuro incerto e um verdadeiro   retrocesso   quanto   à  difusão   e   assimilação   do   fazer   cultural,  como   da cultura global do consumo em nosso Estado, e outro, a falta de valorização para com a resistência e retorno às raízes cultivadas pelo nosso tradicionalismo.

Em   2012   o   Plano   Estadual   de   Cultura   foi   apresentado   para   pauta   na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte pelo Deputado Ubaldo (PTC), com o apoio do também Deputado Francisco (PT) e da também Deputada Isolda  Dantas (PT), a ideia era e discussão de implementação de um Plano Estadual de Cultura, que não aconteceu, já que ao elaborá-lo, a UERN deixou o texto sem completude e sem eixo de fundamentação do que rege um documento desse porte.

Recentemente, na data do dia 06 de março de 2020, a então governadora Fátima Bezerra retirou  das pautas da Assembleia Legislativa  a discussão  sobre a implementação de um Plano Estadual de Cultura, alegando a formulação de uma nova redação, informação  que  me  foi passada   graças ao  empenho  do Deputado Sandro Pimentel (PSOL). Concomitante a isso, já que em oito anos de existência do que viria ser o   Plano não fora dada   a   atenção ou   sequer   ao povo fora   ouvido, enquanto artistas ou fazedores da arte, durante todos esses anos, o Plano Estadual de Cultura   permaneceu   engavetado   por   falta   de   atenção, cuidado   e   respeito   o   que configura um total abandono e descaso com o nosso fazer cultural, um verdadeiro atraso se comparado aos demais estados do Nordeste que desde 2014 têm seus respectivos   Planos   Estaduais   de   Cultura, o   Ceará, por   exemplo, teve   seu   plano aprovado e sancionado em 2016.

Da formação cultural para a formação do povo norte-rio-grandense, grandes acontecimentos   marcaram, no   passado   e   para   entendimento   do   presente, a construção e o desenvolvimento cultural do Brasil e, em sua concomitância, do Rio Grande do Norte.

A Cultura de uma região marca a essência de um povo e dele ascende através da dança, da religiosidade, do artesanato e, enquanto artesanato, posto que é feito e produzido pelas mãos do artesão, assim o mesmo faz disso sua fonte de renda e reafirma sua herança cultural na impressão de tudo que produz em sua arte oriunda do passado   e  de  suas tradições,   mas sucumbe   ante a  falta de   políticas públicas fazendo com que nosso artesanato perca sua impressão tradicional e se aproxime mais do âmbito da industrialização, descaracterizando-o.

Pensando em gestão cultural, convém compreender que as manifestações que assistem tais tradições encerram a essência desse povo. As lendas e parlendas nada mais são que registros culturais que entregam o ficcional e o fantasioso, parte da criação e da imaginação. As danças e folguedos que tão bem foram abraçadas por Djalma   Maranhão   no   passado, serviram   para   registrar   do   povo   suas  heranças   e tradições étnicas e culturais, quando inserem também seus costumes e impressões. Contudo, pensando em gestão cultural significa dizer que políticas públicas nessa área implicam   em   resgate, preservação   e   divulgação   de   toda   e   qualquer   tradição   e manifestação que assista os saberes e fazeres desse povo, quando esse é o aspecto que compreende um Plano Estadual de Cultura que infelizmente é obstante à nossa realidade.

A participação dos recursos destinados à cultura do Estado do Rio Grande do Norte vem de planejamentos elaborados  pelo  Estado   e  vinculados   à FUNARTE – Fundação Nacional de Artes — Órgão responsável, no âmbito do Governo Federal, pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à   dança   e   aos  principais   objetivos   da   instituição, vinculada   ao Ministério   da   Cultura, são   o   incentivo   à   produção   e   à  capacitação   de   artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil.

No Estado do RN, a ausência de um Plano Estadual de Cultura sugere que políticas nesse âmbito sejam assistidas   a partir   das   leis  estaduais de incentivo à cultura, como a Lei Câmara Cascudo, vinculada à Fundação José Augusto que tem por   finalidade   promover   o desenvolvimento   sócio-cultural   e   científico   do   Estado, mediante colaboração com o Poder Público. E lhe compete: estimular, desenvolver, difundir e   documentar as   atividades culturais do   Estado; preparar  pessoal   para   o desempenho de atividades prioritárias ao processo de desenvolvimento; desenvolver um plano editorial visando, sobretudo, a promoção do autor potiguar e nordestino; promover investigações científicas em todos os campos de conhecimento; promover a restauração, conservação e manutenção de monumentos históricos e artísticos do Estado; promover a manutenção e documentação dos bens culturais móveis e imóveis do Estado e, desenvolver um programa de bibliotecas públicas em todos os municípios do Estado. São Leis que culminam em gerar o desenvolvimento cultural de nosso

Estado na ausência de um “Plano”. Casas de espetáculos fechadas, patrimônios tombados se transformando em destroços  soterrando  indiscriminatoriamente o nosso passado, manifestações tradicionais   ficando   a   cargo   das   recordações   e  lembranças   apresentadas   sob   a redoma dos museus, aliás, poucos, posto que há apenas um que guarda nossos registros culturais e popular que é o Museu Djalma Maranhão. A falta de bibliotecas públicas   corroborando   para   o  esquecimento  da   literatura   e   dos   escritores   locais, quando muitos culminam em se abraçarem para tentar salvar sua produção. Não se pode negar o grande apoio que as poucas e editoras têm dado aos escritores potiguares, à   literatura   local.  Outrossim,  o   descaso   que   o   secretário municipal de cultura atual também tem feito ao subtrair do povo de Natal a existência da  Biblioteca   Esmeraldo   Siqueira   que   há   20   (vinte)   anos   deixou   de   servir  ao   seu propósito maior para servir de despacho para outras atividade que não as que são de vínculo de uma biblioteca, logo, sequer há uma placa que registre a existência desse importante espaço. Será que teremos que ser mais pacientes, quando já fora dado tempo demais?

A resposta fica a cargo do tempo, já que a única coisa que nos cabe, enquanto cidadão   potiguar   é   torcer   para   que  os  órgãos  gestores   de   nosso   Estado tenham consciência da   importância de um   Plano   Estadual   de   Cultura, que  saiam de sua inércia e respeita a nossa história, o nosso povo, o nosso passado.

Por Sandemberg Oliveira.