*Franklin Jorge
Como surgiu esse movimento de artistas por mudanças na Cultura de Natal?
Esse movimento surgiu a partir da insatisfação de muitos artistas e empreendedores que veem no secretário Dácio Galvão um homem tendencioso e ganancioso, que só pensa em seus próprios interesses. Há anos a Cultura de Natal está entregue e ostrificada em suas mãos, em decorrência de seu autoritarismo, incompetência e despreparo para o exercício do cargo. Agindo por conta própria e sem nenhum controle, ele não dialoga com o segmento cultural nem valoriza as tradições e manifestações culturais autênticas do nosso povo. Suas ações são pontuais e não contemplam as tradições e valores do passado, por exemplo. Sua única preocupação se resume em manter-se nos cargos que acumula, de secretário e presidente da Fundação Capitania das Artes, além de vender eventos e projetos a empresários para poder tirar proveito e autopromover-se como alguém que é do ramo. Exemplo disso foi o fracasso da Queima de Fogos durante a passagem do ano, prejudicando centenas de ambulantes cadastrados, além de proprietários de restaurantes ao transferir o evento, sem aviso prévio, para privilegiar uma cadeia de hotéis de luxo localizados na Via Costeira, satisfazendo assim os interesses de empresários em prejuízo dos cidadãos natalenses. E, não satisfeito, diante da reação popular, ainda teve a cara de pau de tentar calar suas vítimas com meras vazias colocações, como forma de pedido de desculpas.
Que os artistas pretendem alcançar com essa luta?
É necessário que possamos unir forças com o intuito de colocarmos nas instituições gestores comprometidos com o desenvolvimento cultural de nosso município, sem discriminações nem panelinhas de apaniguados, como temos visto e sofrido as consequências desse descaso que já dura há décadas e se agravou nos governos do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves.
Como nossos artistas são tratados pelas instituições?
Há um descaso total. As políticas dos editais, por exemplo, apenas contemplam as mesmas instituições e pessoas. São cartas marcadas da própria Secretaria Municipal de Cultura. Porém, o mais grave, resulta do fato de que não basta para um artista, caso queira concorrer a um edital, se tornar um microempreendedor, mas ter que concorrer com a própria prefeitura, o que parece a todos um verdadeiro absurdo. Enquanto isso, vários grupos de artistas que difundem ou tentam desenvolver a literatura e a cultura local, sofrem com a falta de respeito e despreparo do nosso secretário municipal de cultura, detentor de um mórbido narcisismo mantido com recursos públicos.
Há políticas culturais no RN?
As políticas culturais, não só do Rio Grande do Norte como de Natal, sucumbem ante o descaso de seus gestores. A começar pelo Estado que é o único do Nordeste que não tem um Plano Estadual de Cultura apto a assistir a seus interesses. Para que possam realmente sair do plano das ideias, as políticas culturais precisam estar concatenadas aos interesses mórbidos do secretário que só mira o próprio umbigo. Houve um tempo em que pequenos produtores culturais eram assistidos e podiam contar com assessores, mas isso já não existe mais, pois, aqui, o que é bom dura pouco. Logo, pequenos produtores culturais precisam se desdobrar para conseguir efetivamente algo. das instituições culturais.
Como vê a supremacia da esquerda sobre a cultura?
Não diria supremacia, mas sim um ato heroico. Veja bem: por mais que associem todo o tipo de corrupção aos denominados de esquerda, são esses os mesmos que ocupam as ruas e que lutam pela democracia ou mesmo por uma assistência mais justa do governo. Vale salientar que se enxergamos a cultura como morna e sem um futuro promissor, pois o atual presidente adotou uma.postura de perseguidor, ao estabelecer a censura, tirando de todos aquilo que levamos anos para .conseguir: a liberdade de expressão. Não estou aqui defendendo A nem B, mas C, desde este seja honesto, sincero e defensor das tradições culturais, logo, há a necessidade de estarmos uma vez ou outra, pensando no passado sem esquecer de nossas conquistas e lutas, muito menos de nossa história.
Os gestores costumam acolher sugestões dos artistas ou tudo sai da cabeça deles?
É tudo um jogo de interesses. Uma verdadeira panela onde somente aqueles abraçados politicamente por seus assessores são contemplados. Isto me parece um resquício de coronelismo que devemos combater. E, precisamos ultrapassar o provincianismo.
O que o atual prefeito difere do anterior?
Há uma acentuada diferença. Entre o que entrou e o que saiu O atual prefeito faz uma política denominada “corpo a corpo”. Ele vai às ruas, visita às obras, fala com o povo, tem apreço pelos artistas locais. Também, quando se faz necessário, enfrenta o secretário Dácio Galvão, como muitos já presenciaram. Não é de deixar para “depois”, chama o secretário às ordens no ato Carlos Eduardo se deixou levar pela lábia e se prejudicou ao dar “carta branca” ao secretário, que terá sido o verdadeiro pivô da impopularidade de Carlos Eduardo na comunidade de artistas e empreendedores culturais. Não consigo compreender porque tudo isso é aceito e.mantido no mais absoluto silêncio. Algo estranho ronda tudo isso. Faz-se necessária uma Auditoria Fiscal para avaliar programas, projetos e políticas públicas do setor cultural. Nós, que trabalhamos com a cultura e não fazemos parte da panelinha do secretário, só sabemos não que nada funciona.
Hoje, acredito muito no funcionamento de sistemas em rede. Seria muito bom para a arte e cultura locais, poder criar um sistema em rede para divulgação da produção, produtos e serviços dos nossos artistas
Tenho um apreço especial pela educação e ainda sinto muita falta da presença da arte na escola formal do RN. Acredito que um projeto de prática e fomento das artes na escola, daria início a um ciclo virtuoso da cultura no Estado.
A ideia parece positiva no sentido de estimular um mercado, mas a importação do pensamento de Bourdieu com o seu conceito de capitais, me parece muito mais uma tentativa de formar empresários da cultura do que criadores
Possivelmente, os motivos são muitos e vão desde a dedicação dos artistas à militância política à falta de referências.
Acho que os músicos do RN evoluíram muito tecnicamente nos últimos anos, mas a escassez de mercado e a dependência do Estado ainda são pontos mal resolvidos.
