*Alexsandro Alves
Se tudo em nossa vida precisa de planejamento, por que não nossas leituras?
Esse ano pretendo continuar a leitura de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. Iniciei-a em janeiro de 2021 e agora darei prosseguimento a esse vasto caleidoscópio da vida parisiense. Outros romances que lerei em 2022 incluem os badalados nacionais Torto Arado, de Itamar Vieira Jr., e Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo.
Porém uma das leituras mais aguardadas por mim para esse ano é Doutor Fausto, de Thomas Mann.
Essa obra é a opus magnus do seu autor. Venho acompanhando alguns estudos sobre o romance e o ponto em comum em todos eles é: não é uma obra fácil. Por vários motivos, mas um deles que me chamou muita atenção é que: há muitas citações e parágrafos e páginas inteiras sobre música clássica. Daí se tira a dificuldade do brasileiro médio em ultrapassar as primeiras duzentas páginas, de um romance que tem seiscentas.
Além disso, é aquele estilo de Mann que mais parece um filósofo alemão: lento, muito explicativo e denso. E a comparação com a filosofia alemã é muito pertinente, se a filosofia e música são alemãs, o mesmo já não dizemos da literatura, a francesa e a russa são maiores.
Mas Mann é um dos pontos culminantes da literatura universal, pelo viés alemão, ao lado de Goethe, com quem, aliás, compartilha o interesse pela lenda de Fausto.
Essa lenda, parte do folclore teutônico, parece conter o suprassumo das inquietações alemãs. Quase como um destino. Goethe, Wagner, Liszt, Mahler, Mann, foram alguns, na literatura e na música, que abordaram esse personagem. Mas também o francês Berlioz, os italianos Boito e Busoni, este último em uma ópera com libreto em alemão escrito por ele mesmo.
O Fausto de Goethe é um cientista, já o de Mann é um artista, um músico. Ele faz o pacto com Mefistófeles para compor obras inauditas ao ouvido humano. Mann baseou Adrian Leverkühn, seu Doutor Fausto, na figura de Arnold Schönberg, músico judeu austríaco que sistematizou o dodecafonismo (sistema musical que quebra a hierarquia entre notas e acordes) e que foi expulso para os EUA por conta de Hitler, onde morreu numa sexta-feira, 13 de julho de 1951 (o que foi uma ironia do destino, porque Schönberg sofria de parascavedecatriafobia).
Satanás ri por último…