*Da Redação
Artigo do portal Terra, com algumas inclusões, em itálico e em negrito, do editor. Link para a matéria original no fim do artigo.
O japonês Seiji Ozawa, um dos mais conhecidos maestros de sua geração, morreu na terça-feira, dia 06 de fevereiro, de insuficiência cardíaca aos 88 anos de idade, por vontade da família, o falecimento do maestro só foi noticiado ontem, 09 de fevereiro, anunciou a emissora pública NHK, do Japão, nesta sexta-feira. O velório foi uma cerimônia privada (apenas parentes) e sem jornalistas, conforme vontade da família.
Nascido na China, Ozawa passou décadas na atmosfera rarefeita das principais orquestras do mundo, mas usava gravatas com tema de beisebol nas entrevistas e preferia ser chamado pelo primeiro nome, não por “maestro”.
Seu cabelo espesso e seu sorriso encantavam o público, especialmente nos Estados Unidos, onde seu mandato como diretor musical da Orquestra Sinfônica de Boston se estendeu por quase três décadas.
Em 2020, Boston proclamou seu aniversário, em 1º de setembro, como o “Dia de Seiji Ozawa”, e Ozawa afirmou que Boston era sua segunda casa.
“Esse foi um momento muito importante em minha vida”, disse ele. “Não importa aonde eu vá, Boston faz parte do meu coração”
Anos depois, de volta a Tóquio, o despretensioso Ozawa às vezes era visto nas plataformas do metrô vestido com uma jaqueta e um boné do seu amado time de beisebol Boston Red Sox e parava para conversar com admiradores.
“Sou o completo oposto de um gênio, sempre tive que me esforçar”, disse ele em uma coletiva de imprensa em 2014.
“Não gosto muito de estudar, mas tive que fazer isso se quisesse fazer música. Qualquer pessoa com gênio pode facilmente fazer melhor do que eu.”
Uma passagem pela Ópera Estatal de Viena foi ofuscada por problemas de saúde, incluindo um diagnóstico de câncer de esôfago em 2010, ano em que saiu.
Mais tarde, ele foi operado de uma lesão nas costas e teve crises de pneumonia, o que muitas vezes o manteve afastado, mas não diminuiu seu entusiasmo.
“Continuarei fazendo tudo o que sempre fiz, ensinando e regendo orquestras, até morrer”, disse Ozawa à Reuters em uma entrevista em dezembro de 2013, na qual usava uma gravata de beisebol do Boston Red Sox e um paletó preto.
O tempo de inatividade teve vantagens ao liberá-lo para estudar música, conversar com amigos, como o autor japonês de best-sellers Haruki Murakami, e para pensar, disse Ozawa.
Terceiro de uma família de quatro filhos, Ozawa nasceu em Shenyang, na China, em 1935, onde seu pai, um dentista, havia se estabelecido. Mais tarde, eles se mudaram para Pequim.
Sua mãe, cristã, levava-o à igreja para cantar hinos, e a família cantava em casa, às vezes acompanhada por um de seus irmãos em um acordeão.
“Foi assim que conheci a música”, escreveu ele mais tarde.
A família retornou ao Japão em 1941, levando apenas algumas roupas, um álbum de fotos e o acordeão. Ozawa começou a aprender piano. Quando torceu o dedo jogando rúgbi e não pôde continuar, passou a se dedicar à regência.
Como regente, se especializou em Mahler e na música moderna, trabalhando, inclusive com Stravinsky. Foi auxiliar de Herbert von Karajan e através dele absorveu o repertório padrão austro-germânico.
Uma de suas gravações mais espetaculares é a da cantata cênica de Carl Orff, Carmina Burana, um verdadeiro sucesso comercial e de crítica. Nessa gravação, lançada tanto em áudio quanto em vídeo, as características do maestro são demonstradas de forma avassaladora e magnética: a precisão da marcação, a exuberância emotiva e o controle sem freios da organicidade da obra. É a gravação abaixo, realizada em Berlim, em 31 de dezembro de 1989 (em 1991, a Rede Globo exibiu, em seus Concertos Internacionais, essa gravação, com apresentação de Tarcísio Meira). Detalhe, no vídeo está escrito ópera, mas não é ópera, é uma cantata.