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Sem memória, sem história.

Em artigo sagaz, Colaboradora de Navegos aponta a principal causa do fracasso das nossas gestões culturais, a falta de memória e o descaso sistemático com a sua preservação.

*Nadja Lira

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Foi graças à Segunda Guerra Mundial que a Cidade do Natal, berço do grande Mestre Câmara Cascudo, se tornou conhecida aos olhos do mundo, mas poucos têm conhecimento desse fato. Poucos sabem que a presença dos soldados americanos em solo potiguar, contribuiu para que Natal fosse a primeira capital brasileira a mascar chiclete e a descobrir o sabor das comidas enlatadas. Graças aos soldados americanos, Natal foi a primeira cidade do Brasil a tomar Coca-Cola e usar jeans.

Poucos potiguares, especialmente os da nova geração, sabem as razões pelas quais em Natal existem ruas e avenidas, as quais além do nome também são conhecidas por números, tais como as avenidas 1, 2, 3, 4, 5,..16. Foram os americanos que nominaram as avenidas, em homenagem à terra do Tio Sam.

Poucas ainda são as pessoas que conhecem a história de criação do Beco da Quarentena, localizado no bairro da Ribeira. Uma boa parte das pessoas, quando se referem ao local, apenas lembram que ali existia um cabaré, um gango, um puteiro. Poucos sabem que o lugar recebeu este nome por causa de uma epidemia de varíola que vitimou Natal no ano de 1905. Padre João Maria levava as pessoas para o Beco onde recebiam cuidados e a fim de cumprir uma quarentena. Daí a origem do nome.

O próprio poder público potiguar desconhece a história do Beco da Quarentena, do qual, hoje se tem conhecimento somente através de livros antigos. O lugar que, devidamente cuidado poderia se transformar em um ponto turístico, não existe mais. No lugar se vê apenas um muro, mostrando a ineficiência e a falta de compromisso dos políticos potiguares com a sua própria história.

Muito se fala sobre o potencial turístico da Cidade do Natal, mas pouco se faz por este setor e exceto as praias urbanas que vão de Ponta Negra até a Redinha, a cidade nada tem para mostrar aos turistas. A Fortaleza dos Reis Magos – marco de sua fundação, está fechada há mais de 10 anos, assim como o Teatro Alberto Maranhão e o Parque da Cidade. E a culpa por esse descaso não é do Vírus Chinês.

O bairro da Ribeira, local rico em história, faz vergonha e dá desgosto a qualquer pessoa que tenha amor por esta cidade. Tudo feio, velho, destruído e caindo aos pedaços. O bairro da Ribeira parece uma cidade fantasma, numa prova clara de que nossos governantes não estão preocupados com a imagem que os visitantes levam da nossa cidade.

O turista que vem a Natal com o intuito de desbravar as potencialidades turísticas do lugar, vai conhecer somente o que existe na Região Metropolitana, porque dentro do limite da Capital Trampolim da Vitória, existe pouco a ser visto. E o pior: quem jamais foi assaltado na vida, corre o risco de viver esta experiência aqui, na Cidade do Sol.

Os políticos, que passam boa parte do seu tempo viajando, deveriam trazer para a cidade, os exemplos bem-sucedidos de empreendimentos turísticos existentes em outras capitais. Afinal, o povo paga os salários desta casta em dia, sem qualquer atraso, e paga além daquilo que eles merecem, mas não recebe o retorno nos serviços que prestados.

Não bastasse esse descaso, a Cidade do Natal vive entregue aos bandidos, que estão soltos fazendo toda sorte de desgraça e levando pânico à população, enquanto os cidadãos de bem vivem trancados dentro de suas casas e mesmo assim correndo risco com a bandidagem.

Dá uma enorme tristeza perceber que Natal é uma cidade rica em história, mas pobre em memória, por falta de interesse daqueles que administram a cidade.