*Adalgisa Assunção
Neste último dia 28 de outubro, data em que se festeja o dia do servidor público, constatamos com profunda tristeza que esta categoria e em particular os professores da Rede Pública, nada têm a comemorar. Não é demais lembrar que os professores da Rede Pública Municipal de Natal acumulam perdas salariais estimadas em mais de trinta por cento, desde a desastrosa administração de Micarla de Souza.
Também não é demais lembrar que os professores são os únicos servidores públicos que estão nos seus ambientes de trabalho às 07:00h da manhã. Professores são os únicos servidores públicos que fazem greve e são obrigados a repor os dias parados. Para isto sacrificam as suas férias.
Médicos, policiais, motoristas e outros profissionais também fazem greve. Porém, ninguém jamais, em tempo algum na história da humanidade, viu um médico, por exemplo, ser obrigado a fazer um plantão extra a fim de atender aos pacientes que ficaram sem atendimento durante o período em que a categoria fez greve.
É somente por ocasião de uma greve, que o Ministério Público considera a atividade dos professores como essencial. Fora disto, só lembrança de Bartô. Pouco importa se os direitos da categoria são desrespeitados e se governantes descumprem leis.
Recai sobre os ombros dos professores, uma grande responsabilidade no que se refere a aprendizagem de crianças, jovens e adolescentes. Afinal, ninguém se torna médico, advogado, juiz, engenheiro, enfim, nenhum ser se torna profissional sem a ajuda de um professor.
Poucos são os que reconhecem que este profissional não está habilitado a fazer milagres e que precisa ser minimamente motivado para realizar bem seu trabalho. É inegável que esta motivação também passa pelo reconhecimento ao seu trabalho e, especialmente pelo respeito ao pagamento dos seus direitos. No município de Natal, para receber pagamento de quinquênios, férias, e para ter direito à mudança de letra de acordo com o plano de Cargo, Carreira e Salário, o professor precisa recorrer aos serviços de um advogado. Isto significa
dizer, que para receber aquilo que é seu, o professor precisa “brigar” na Justiça. De outra forma não recebe aquilo que é seu por direito.
Outra pouca vergonha é relacionada ao direito que o professor do Município de Natal tem, para gozar uma licença prêmio. A lei preceitua que, a cada cinco anos de trabalho, o professor terá direito a uma licença de três meses. Na prática, porém, poucos desfrutam desse direito a não ser que esteja prestes a se aposentar. E não adianta recorrer aos santos das causas perdidas. Nem eles conseguem dar jeito nesta situação, porque a demanda é grande demais.
A escola, cujo papel histórico é ensinar a ler, escrever e contar, está perdida em meio a tantas atribuições que lhe tem sido imposta. Agora, além do papel que é de sua responsabilidade, a escola está transformada em uma instituição de assistência social e médica.
Desse modo, a instituição educacional precisa atender às famílias no recebimento de cestas básicas, encaminhar famílias para cadastro a fim de receber auxílios municipais, estaduais e federais, bem como servir café da manhã, almoço e jantar às crianças, já que elas, na sua maioria, não dispõem de comida em casa.
E tem mais: Quando uma criança chega ao Quinto Ano sem conhecer uma única letra do alfabeto, é o professor que precisa identificar o tipo de bloqueio, trauma, doença, ou seja, lá o que for, que entrava o aprendizado deste aluno. Também cabe ao professor descobrir as alternativas para dar solução ao problema. A palavra de ordem aqui é – Dê seu jeito.
A pergunta que os professores vivem a se fazer é a seguinte: Com tantas atribuições destinadas ao professor, como encontrar tempo para ensinar a ler, escrever e contar, conforme é o papel da escola?
O Ministério Público parece ter encontrado a solução mágica para esta questão: Determinou que as escolas sejam obrigadas a ministrar 800 dias de aula por ano. Mas aqui cabem outras perguntas: Qual foi a operação matemática realizada para chegar a este número? Qual é a garantia de que com 800 dias letivos as crianças vão aprender a ler, escrever e contar?
Quem tiver as respostas para estas questões, por gentileza, escreva nos comentários. Os professores ficarão profundamente agradecidos. E para fechar a questão, mais uma pergunta: Diante de tudo isto, professor tem mesmo o que comemorar no dia do servidor público?
FOTO Professores fazem manifestação em frente à Prefeitura de Natal.