*Reynivaldo Brito
O nosso personagem era muito conhecido dos pombalenses como seu Elias, da loja A Brasileira, uma pequena livraria que além de livros e materiais escolares vendia vários outros produtos. Embora não tenha tido chance de seguir seus estudos e tirar um diploma superior era um homem que lia tudo que lhe chegava às mãos, e capaz de discutir muitos assuntos da atualidade, inclusive da política e economia do país. Tinha um jeito manso de chegar e conversar. Lembro que por várias vezes quando tinha uma fazenda em Ribeira do Pombal e durante a noite costumava ir até o Bar de Kleber tomar uma cervejinha e comer uma pizza feita pelo meu saudoso amigo, sempre aparecia seu Elias, e batíamos um papo. Mostrava-se interessado nos problemas da educação, e além de muito religioso e amante do futebol. Era líder dos congregados marianos e chegou a reformar uma velha casa para servir de sede da Congregação Mariana, quando era presidente da irmandade. Era também um devoto de Santa Tereza D`ávila, e no futebol foi um incentivador deste esporte em Ribeira do Pombal sendo o fundador e mantenedor do Flamengo juntamente com outros amigos amantes dos esportes.
Seu nome completo era Elias Venâncio de Souza, nasceu na Fazenda Alecrim, em 1º de abril de 1924, era casado com d. Iracema Macêdo de Santana de Souza, mais conhecida por d. Irá e juntos atendiam seus clientes na A Brasileira. Iniciou na atividade comercial na década de 50 Sapataria Elite, que ficava na esquina, num imóvel que foi desapropriado, e depois demolido pela Prefeitura para o alargamento da Rua João Fernandes da Gama, a antiga Rua da Ribeira. Na parte dos fundos do imóvel, próximo onde hoje fica a agência do Bradesco, seu Elias implantou uma fabriqueta de sandálias de couro. Com o passar dos tempos os insumos ficaram caros e chegaram as sandálias havaianas, e ele teve que desativar sua fabricação artesanal. Chamou seus funcionários e doou as máquinas e ferramentas.
Mas, sua vida no comércio começara antes. Logo que chegou da zona rural aos 17 anos de idade seu primeiro emprego trabalhou na alfaiataria de Joaquim Costa onde aprendeu a cortar e costurar camisas, passando para oficial de camisas e depois de calças e por último a cortar e costurar ternos. Levou alguns anos nesta profissão de alfaiate até que comprou uma barbearia e aprendeu a cortar cabelo e fazer barba dos clientes. Nos anos 50 iniciou sua atividade comercial fazendo parte do comércio local juntamente com os donos da loja de tecidos São José, de Antônio Nascimento (onde funcionou o Baneb); a Casa Chaves, também de tecidos de José Leôncio; loja de ferragens de Irênio Souza, Loja Imperiolar, de tio Rogaciano Reis; o comércio de meu pai o Posto Esso, a Loja de Peças e o Abrigo; a loja A Expositora, de Pedro Souza, no local onde chegou a funcionar a Loja Ricardo Eletro, até recentemente
Esta loja era de um casal Pedro Souza e Dona Enedina que moravam na Rua da Santa Cruz, hoje, Avenida Evência Brito, próximo ao cinema, que existia ali. Este casal era de Salvador. dentre muitas outras lojas. Ribeira do Pombal sempre teve uma vocação para o comércio e serviços, além da agricultura e pecuária. Elias Venâncio era casado com d. Iracema Macêdo de Santana de Souza e tiveram sete filhos José Renato, assistente social; Antônio Renildo, professor de Economia na Universidade Federal da Bahia; João Edson, advogado e procurador jurídico do Estado da Bahia; Maria Ivone, farmacêutica; Maria Eliane, assistente social; Vilma Maria, dentista, já falecida, e Elias Junior, jornalista, que mora em Roraima. Como vemos ele conseguiu formar todos os filhos, que já lhe deram 17 netos.
O padre Emílio Ferreira Sobrinho falando de seu Elias disse “estar lisonjeado por ter sido escolhido para dar um depoimento sobre uma pessoa simples e marcante na história recente de Ribeira do Pombal. Conhecido por seu Elias de A Brasileira a maioria dos pombalenses lembrará dele com carinho. Foi um incentivador do esporte ajudou muitos jovens a crescer como cidadãos. Sobre a sua família deixou seus filhos todos formados e transferiu a sua amizade para muitos de seus amigos. Tenho uma amizade especial com Renato Souza, seu filho mais velho. Na educação seu Elias contribuiu muito na reconstrução da nova sede da Congregação Mariana quando colocamos a Escolinha de São Vicente que marcou época como sendo uma das primeiras escolinhas da Cidade.
Depois foi reconhecida e doada à Prefeitura, e, posteriormente, o Estado assumiu. Ensinando às crianças, formando e encaminhando em todos os setores, inclusive a parte artística e para o trabalho. Levou os seus filhos para Salvador e conseguiu formá-los, e hoje estão todos encaminhados”. O padre Emílio Sobrinho lembrou ainda “dos passeios que fizeram para fazendas no interior do município e até para Sergipe onde todos se encontravam, se congratulavam, e o esporte também sempre estava presente. ”
Todos que conheceram de perto seu Elias guardam boas lembranças disse o advogado Pedro Morais e “falar dele é certamente correr o risco de pecar pela omissão ainda que muito seja lembrado desde grande pombalense. Toda a adjetivação seria cabível para anunciar as virtudes do grande amigo e mestre. ”
Já Ivete Valadares, bancária, falou do imenso carisma que possuía e da” imensa ternura que dele transbordava. Vem-me à mente a livraria, início das aulas, cheiro de livros e cadernos novos, lápis lindos e coloridos”.
O Ivanildo Regis, que é servidor municipal e comerciante destacou que o primeiro lápis que recebeu foi das mãos de seu Elias, e que na época ficou chocado com o seu falecimento.
O servidor público aposentado Américo Passos Conceição lembrou que seu Elias “foi o maior incentivador do esporte nesta terra e destacou a sua contribuição para a educação e cultura da Cidade. Foi dele a primeira livraria e papelaria, além de trazer os jornais e as primeiras revistas semanais e mensais para Ribeira do Pombal. ”
O produtor rural e político Nilson Brito destaca que o seu “Elias era um homem que tinha cultura, amante da boa música e apaixonado pela nossa Filarmônica XV de Outubro. Contribuiu decisivamente no resgate das nossas festas populares como o reisado, bumba meu boi, juninas, corrida da argola, dentre outras. Colaborou e participou das grandes micaretas aqui realizadas, organizou e reativou com seu espírito desportista a liga de futebol, os campeonatos levando muita gente para assistir os jogos. Entendia que uma forma de combater a violência era incentivando a prática de esportes e lazer. ”
Lembra ainda Nilson que certo dia foi surpreendido com o convite feito por seu Elias, que era seu compadre, para presidir o Clube Flamengo, que criara. “Mesmo sendo torcedor do Fluminense, do Rio de Janeiro, aceitei o convite e fortalecemos o Flamengo e fomos campeões. Ele vivenciou toda a minha trajetória política com a sua sabedoria, sensatez e experiência de vida”.
Outro traço na personalidade de seu Elias é que ele ajudou muitas crianças a estudar doando livros ou facilitando que seus pais pagassem quando pudessem. No seu depoimento Altamiro Freire, Oficial de Justiça, relembrou que ele defendia o direito a educação, que é dever do Estado, e isto nos foi assegurado por seu Elias “que permitia que eu e meus irmãos adquiríssimos todo material escolar do ano inteiro, sem nada pagar ou assinar, naquele momento, apenas na confiança que meu pai iria honrar aquela dívida. E este tratamento não era apenas com minha família, mas com todas cujos pais residiam na zona rural e povoados. Era sempre assim. Seu Elias foi o responsável direto pela educação de muitos pombalenses, sem ele, muitos seriam analfabetos ou apenas alfabetizados”.
Para João Edson, meu pai, Seu Elias, de A Brasileira, deixou muitas saudades do amor que nos deu e dos exemplos de comportamento em casa e na loja, da simplicidade a fidalguia no trato social com todos. Era um gentleman por natureza aliada a uma bondade infinita. Nunca presenciei um grito com minha mãe, d. Irá, ou com os filhos que nunca receberam uma palmada. Como presidente da Congregação Mariana construiu a sua sede, amava Santa Tereza D’ávila e o Flamengo, do Rio de Janeiro, time que o fez fundar e manter o Flamengo, em Ribeira do Pombal, dito por todos como o maior incentivador do esporte amador em nossa terra. Tinha outra paixão, os livros que lia diariamente, daí a levar os sete filhos para estudarem em Salvador foi uma sequência lógica da importância que dava à educação, e todos estudaram e concluíram o curso superior. ”
NR- Quero agradecer a Hamilton Rodrigues por colher alguns depoimentos e fotos para a publicação deste texto sobre seu Elias uma das figuras saudosas e queridas de Ribeira do Pombal.