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Sibelius e a libertação finlandesa

Sua Sinfonia n. 2 foi saudada em sua estreia como obra política de libertação da Finlândia do domínio russo.

*Leonardo T. Oliveira

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Ataque (1899), de Edvard Isto (1865-1905), simbolizando a resistência finlandesa à chamada “russificação” – a águia de duas cabeças da Rússia arranca o livro da lei dos braços da dama finlandesa.

Em 1902, os finlandeses se sentiam dentro do próprio país como animais de estimação patrulhando um quintal alheio: tinham liberdade local, mas toda decisão de Estado dependia do Império Russo. Sem autonomia de governo, de exército, de moeda, de religião e mesmo de idioma, quando tais elementos são sentidos como de um outro, não é difícil compreender como a própria identidade se torna comprometida.

Em 8 de março daquele ano, o compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957) estreava a sua Segunda Sinfonia na cidade de Helsinki com a orquestra filarmônica local. E, após três movimentos de uma obra que alternara brilho e melancolia, foi isto o que o público ouviu na transição para o quarto e último movimento (veja vídeo abaixo).

Coloque-se no lugar do ouvinte da estreia: tempos de opressão, público tenso, e depois desse looongo crescendo, vem esse tema heroico e pujante, germinado desde o motivo de três notas que havia dado abertura à sinfonia e que serviu de genial “material genético” para toda a obra, tornando-se cada vez mais grandioso e irresistível: era tudo de que os finlandeses precisavam!

Com um final desses, a obra se tornou extremamente popular na Finlândia e foi associada à luta por independência do país: passou a ser chamada de “Sinfonia da Independência”, e assim o país encontrava nada menos do que uma voz reconhecível e desejada, capaz de expressar a identidade que buscava.

Questiona-se se era essa mesmo a intenção de Sibelius ou se foi um desses exemplos em que a música é capaz de instaurar um mundo que inspira as possibilidades do nosso mundo e nos ajuda a libertar o espírito. Mas uma prova de que não se tratou nem de uma obra datada nem de uma utopia, é que hoje ela é admirada no mundo inteiro e continua importante no seu país de origem.