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Sobre o tempo

O tempo pede-nos estrita contas do tempo, disse ou anteviu o poeta. Colaborador de Navegos escreve sobre o tempo sem tempo.

*Flávio Machado

O tempo encolheu, como roupa fabricada com tecido de baixa qualidade, logo na a primeira lavagem encolhe, como as calças da infância, o tempo está encolhendo. A velocidade dos dias encurtando a nossa existência, devorador insaciável. Talvez seja a hora de ouvir o conselho de Einstein, sobre a velocidade do minuto, não devemos nos preocupar demasiadamente com o minuto, que passa por nós na velocidade da luz.

A impressão é temos mais atividades do que tempo para realizá-las. A vida ficou mais veloz no século 21, tornou – se provisória e urgente. A comida que comemos apressadamente (“fast food”), não há tempo para reflexões, só para as ações, tomadas de decisão.

Perdemos contato com as coisas simples, como, por exemplo: sentar no meio fio no meio da tarde para examinar o céu, ver o desfile das nuvens. Hoje não tenho a menor ideia sobre a fase Lua.

Passamos por uma avalanche de informações, via e-mail, celular, televisão, redes sociais, whatsApp. Em tempo real explode um míssil no Líbano, menos de cinco minutos depois estamos comentando as consequências, lamentando as vidas perdidas. O paradoxo é que não sabemos praticamente nada do que acontece próximo de nós, não conhecemos o nosso vizinho, quase nunca nos vê, tão ocupados estamos no olho do furacão, lutando pela sobrevivência.

Há quanto tempo você não pára no meio do dia para admirar o Sol? Apenas o suficiente para sentir a luz e o calor tomando tocando a pele. Recordar a ligação com a natureza, algo maior do que a mesquinharias do dia a dia.

Proponho uma nova ordem, diminuir a velocidade, para contrapor ao “fast”, introduzir o “slow”. Para melhorar as nossas relações, proponho que derrubemos os muros pacientemente construídos, vamos procurar saber mais do bairro, e menos do mundo. Decretar pelo menos quinze minutos diários para a reflexão, observar o céu, a natureza que tiver sobrado. Esquecer por instantes a deslealdade das disputas, as agruras urbanas, as decepções, os fracassos, o sentimento de impotência diante da violência.

Proponho nestes quinze minutos fazer planos impossíveis, sonhar acordado. O poeta Mário Quintana disse que a gente quando sonha, olha para dentro. Proponho cultivar esse olhar.  Proponho ainda que abracemos a quem amamos, brinquemos, façamos caretas para as crianças na rua, contemos piadas para uma roda de desconhecidos, relembremos os causos engraçados.

Proponho tirar o pé do acelerador. Lembro de meu avô em nossas longas caminhadas pela Estrada Velha da Pavuna e dizia: Devagar também é pressa, o importante é chegar