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Sons da floresta

Novo Colaborador de Navegos estreia em nossas páginas com uma fábula que fala aos nossos dias e promete surpreender os leitores a cada nova postagem com as peculiaridades de sua escrita.

*Vitor Bertini

O comunicado era oficial.

O Conselho das Corujas, nos termos do Estatuto das Matas, convoca todos as criaturas desta floresta para a Assembleia Geral Extraordinária a ser realizada ainda hoje, ao pôr do sol, na Clareira do Lago

.– Qual é a pauta? – repetiam quase todas as vozes, em forma de pergunta.
– Melhor não faltar! Melhor não faltar! – Taramelavam os papagaios, emissários do Conselho, voando em bandos e espalhando ansiedade e suspense.

Os boatos sobre os motivos da convocação só não foram mais numerosos por falta de tempo. Falava-se de um novo recenseamento na floresta, na votação de um novo fundo eleitoral, na possível explicação sobre o desaparecimento global das abelhas e até na formação de um Superior Tribunal da Floresta, uma espécie de STF regular, há muito demandado.

– Corujas não se reúnem por pouca coisa – rugiram os leões, seguros de si.
– Vamos comparecer em paz – garantiram as leoas, respondendo aos olhares desconfiados das zebras.

– Iremos aos pulos – completaram os improváveis cangurus, certos de que viviam em uma floresta inclusiva.

Na hora do sol vermelho, com todos os bichos presentes e guardando silêncio, a coruja mais velha, Presidente do Conselho, tomou a palavra:

– Muito obrigado, pela presença de todos. Serei breve. Nos últimos dias o Conselho recebeu, preocupado, notícias dando conta de supostas proibições da emissão de alguns sons de nossa floresta, por parte de supostas autoridades. Como se nossos pios, mugidos, arrulhos ou cantos pudessem, de alguma forma, ser prejudiciais ao nosso conviver. Não sabemos se são verdadeiras as notícias, mas sabemos que são falsas estas autoridades – e concluiu, séria, de olhos arregalados: – aqui, falsos corvos não crocitarão. Aqui, livre falar, é falar com a voz que cada um tem. Salve a multiplicidade de sons da floresta!

Os urras e vivas só foram interrompidos quando a coruja Secretária Geral piou, pedindo mais um minuto de atenção:

– Só um lembrete. Nesta mata também se pode ir e vir, livremente. Nossa floresta não tem donos!

Diante de novo tumulto, as abelhas, que não tinham sido avisadas de seu próprio desaparecimento, preocupadas com o tempo de floração, saíram às pressas para fazer mel – e zunir como quisessem.