*Alexsandro Alves
Eu ouvia bastante Renato Russo, mas na época de Soul Parsifal, 1996, ele não me interessava mais. Porém o título da música sempre me chamou atenção.
Por que Parsifal?
Esse nome, Parsifal, me fazia sempre querer ligar a música de Renato Russo à ópera de Wagner. Mas considerava isso impossível.
Além disso, pensava também: o mito é muito conhecido, faz parte da Demanda do Santo Graal, que por sua vez faz parte dos mitos que integram a Távola Redonda do rei Arthur.
Deve ser por aí, concluía.
Mas eu sabia que não era. Eu sabia. Por quê?
Porque o nome do personagem é Percival com algumas variantes em alguns casos. Tanto nos poemas franceses de Chrétien de Troyes e Robert de Boron (que grafam, mas especificadamente, Perceval) quanto no poema do poeta alemão Wolfran von Eschenbach, que grafa Parzival, o s e o f, não são grafados em nenhuma versão medieval.
Parsifal é uma variante criada por Wagner, segundo ele, dessa maneira soa mais místico, se pronuncia Parzifai. Wagner ainda alterou a lenda fazendo o nome ser de origem árabe, e não bretã ou celta.
Segunda-feira, dia 16, estava procurando uma versão do prelúdio dessa obra. Eu queria a gravação de Hans Knappertsbusch, em Bayreuth, de 1951. Ele gravou 12 vezes essa ópera completa, de 1951 a 1964.
Porém, o You Tube me recomendou o Soul Parsifal, de Renato Russo e Marisa Monte, além, claro, de várias gravações de Kna: 1951, 1958, 1962 e 1964. A que eu buscava era a de 51.
Mas vendo na lista aquela canção da Legião Urbana, fiquei intrigado e fui ouvir. Mas parece que era coisa do Destino, assim mesmo com d maiúsculo. Não era a música, era um rapaz explicando 5 curiosidades sobre a música! Na curiosidade número 2, a grande revelação: Renato, assim como este escriba, meus queridos e minhas queridas, também era fã de Wagner!
Pronto! Aí eu disse: Ah, não! Eu não ouvi essa música nunca! Desde 1996! Pois vou ter que ouvir agora!
E não é que o início da canção é com um arranjo do Prelúdio! Mas eu creio que isso deve ter sido coisa de Marisa e não de Renato – a música daquela sempre foi, evidentemente, mais refinada do que a deste.
Li a letra, que é de Renato, e muitas coisas deixam entrever o que se passa na ópera: a pureza, o pecado, a renúncia; Renato fala que é forte e que tem uma oração; a estrofe em que aparece repetidas vezes a palavra cansado, pode se referir à Comunidade do Santo Graal, mas Renato a coloca inteiramente para Parsifal: Não falo pelos outros / Só falo por mim.