*Franklin Jorge
Ida, Ida Oliveira. caicoense. é uma sertaneja de fibra longa, ativa e laboriosa, em seus 86 anos de embates terrenos. À primeira vista, quando nos deparamos com essa mulher que devotou-se ao Bordado e Às Rendas, estilista que se aproveita do conhecimento de uma cultura suntuária milenar, que ela transfigura em roupas modernas e tradicionais.
É possível que seja, no Brasil, a última grande artesã forjada em constante aprendizado. Instruiu gerações numa arte milenária e em um artesanato diferenciado, multifacetado e perfeccionista, pois à Instrutora carismática juntou-se a Artista, a Estilista, a Designer de requintados artefatos utilitários, representados em blusas de cambraia de linho, de algodão egípcio, vestidos feitos de pequenos retângulos coloridos, como uma segunda pele enfeitiçada.
Sua arte pressupõe um aprendizado insatisfeito. Como criadora de belos artefatos que vestem as mulheres que se prezam e se comprazem no que é raro, Ida torna as mulheres distintas, realçando-lhes a elegância e o refinamento com suas rendas e bordados que delatam sua procedência aristocrática.
Foi minha colega no Solar Bela Vista, Centro Cultural do SESI que deixaram definhar e morrer, jazendo atualmente, putrefato, inerme e sem serventia. Mulher alta, elegante, com aquele donaire majestático das autenticas sertanejas. De natureza franca, extrovertida, alegre, sabendo conversar como uma atriz.
Estamos unidos por mais de 40 anos de amizade, desde que convivemos e produzimos no Solar Bela Vista que, como assessor de Deijair Dantas, esforcei-me para abrir as portas desse Centro Cultural aos potiguares em geral. Nessa época, convenci Deijair e Candinha Bezerra a maternos oficinas de arte, além do artesanato já em curso. Minha ideia foi acatada e empenhei-me, desde então, a resgatar os Professores e Instrutores da Escolinha de Arte da Prefeitura do Natal, com mais de 600 alunos matriculados. Assim, pode o Solar Bela Vista dar continuidade a um trabalho meritório, agregando ao seu plantel os artistas e professores Fernando Gurgel, Núbia Albuquerque e Madé Weiner, que deram o melhor de si em um trabalho marcante.
Detém Ida Oliveira um Conhecimento milenário, que a torna apta a praticar a ‘’costura invisível’’, usando a agulha de forma a não deixar rastos. Deijair, sua Diretora, queria fazer do Solar Bela Vista um centro musical de excelência. Eu defendia uma ação multicultural capaz de fazer do Bela Vista uma referência cultural relevante. Não fui bem-sucedido, mas deram-me algumas compensações e, logo, vendo-me fracassado em meu intento de fazer do Solar o abrigo duma cultura viva, pedi, logo depois, demissão. Acabei, como sabeis, na Amazônia…
Cidadã apaixonada pela República e a Liberdade, não se furta de ter opinião e de mostrar-se bem informada sobre a política, essa imensa roda que ao se mover, esmaga. A Política a anima na mesma medida em que os Políticos a desanimam. Eis um tema recorrente de nossos bate-papos, em sua casa ou na minha, tomando café e mascando pedaços de sanduíches, de bolos, de biscoitos.
Em seu pequeno e bem cuidado apartamento, ficamos na sala decorada com uns resquícios dos moveis de família e o belo e elaboradíssimo Oratório de madeira, feito à mão, a mesa comprida, três cadeiras com descanso para os braços, acolchoadas, onde conversamos diante de uma janela transfigurada pela luz do crepúsculo, as toalhas e guardanapos bordados à mão, tudo aqui sintetiza e resume toda uma cultura de refinamentos.
No Solar Bela Vista, onde trabalhávamos, nos visitávamos reciprocamente e tomávamos café na ampla cozinha. Sempre conversávamos sobre trabalhos que pretendíamos realizar.
Expressão máxima do artesanato de sua geração, tendo representado o Rio Grande do Norte em Feiras internacionais de Artesanato.