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Tamborete para dois

Recorrendo ao notório apelido do ex-governador Geraldo Melo, chamado Tamborete por sua baixa estatura – fato que muito o arreliava quando jovem -, Colaborador de Navegos traça paralelo entre ele e a atua governadora, Fátima Bezerra, de minúscula estatura moral e incompetente.

*Francisco Alexsandro Soares Alves

Por que a verdade e a justiça precisam sempre reivindicar? Por que os que uma vez a reivindicaram , hoje são por elas cobrados?

Lembro dos anos de Geraldo Melo. Dizia-se que o mesmo era tão ruim para o funcionalismo do Rio Grande do Norte, que sua casa era como um antro de sadismo, uma espécie de porão a céu aberto, de onde o próprio se esbaldava de rir vendo, a cada final de mês, uma multidão de funcionários públicos aglomerando-se sob o sol escaldante aos pés do Machadão.

De sua casa, o governador Geraldo Melo a tudo assistia. Desde o amanhecer quando chegavam aos montes os primeiros, até aos momentos finais onde, sob suor, cansaço e sofrimento, o funcionalismo estadual recebia seus parcos proventos. Eram anos de chumbo para o funcionalismo potiguar sob o comando do homem do tamborete, os novos ventos trouxeram folhas amareladas, secas de qualquer boa-nova.De 1987 até 1991, é possível afirmar que nunca houve no estado um indivíduo mais perverso do que o governador Geraldo Melo para o funcionalismo estadual. Mas a cereja dessa floresta negra de perversidades era saboreada pelos professores. O Sindicato dos Professores estava em seus anos iniciais de maior luta. Em 8 de maio de 1987, mesmo com o Sindicato ainda não legalmente instituído, milhares de professores fazem o enterro simbólico do então governador em frente ao Palácio Potengi. Vários são presos pela polícia militar, incluindo três artistas. Na delegacia, os policiais obrigam estes artistas a masturbarem os presos, numa atitude que revela, além do gosto pela tortura, também um pendor de homoafetividade reprimida dos agentes policias. Nunca se viu isso no Estado. Após o sepultamento, o desgaste entre o governo e a categoria dos professores parecia ir sempre em um crescendo, com forças orquestrais descomunais sempre se chocando. O dia 8 de maio de 1987 foi uma data inesquecível sob vários aspectos. A ditadura militar já havia passado, porém uma nova Constituição ainda se escrevia, e além disso, o período Geraldo Melo foi um dos mais conturbados da história recente do Rio Grande do Norte.

Então chegamos a 2020. Hoje, graças às ações de deputados e senadores, entre eles Fátima Bezerra, atual governadora do Estado, o magistério tem direito a um aumento anual em seus proventos, através de um cálculo especificado na Lei do Piso, um dos estandartes da luta da então Senadora Fátima Bezerra. Foi uma conquista histórica.

E hoje, a que mais lutou por essa lei, passa um calote na categoria do magistério. A agora Governadora Fátima Bezerra também sobe no tamborete e se delicia com seus desmandos contra a categoria que outrora foi um de seus símbolos de luta. A Governadora Fátima Bezerra até agora não pagou o aumento do piso do magistério. Como se explica isso?

Para mim, que sou professor, escrever estas palavras é uma dor no coração muito grande. Eu amava a luta sincera de Fátima pela Educação. Era real para mim. Era real para a categoria. E parecia ser real para a então senadora. É uma tristeza e uma dupla vergonha e dupla derrota que isto esteja acontecendo. Nós, professores, fomos derrotados pela petista Fátima Bezerra. O que a mesma nos concedeu como uma dádiva na forma de uma lei, hoje nega de forma desavergonhada, cínica e humilhante. Fátima Bezerra deseja pagar o aumento do piso 2020 apenas em 2021, e em doze vezes.

Afinal, onde está este dinheiro? O governo federal o mandou. O governo estadual o recebeu. Foi parar nas contas de quem? Porque nas dos professores não foi. A questão é apenas esta. O dinheiro está no Estado, mas não chegou aos seus donos. Quem são os atravessadores? Eu tenho certeza que as perguntas devem ser estas. Não devemos perguntar quando a governadora vai pagar. Ela não vai pagar, ponto. Agora temos que saber o que o governo estadual está fazendo com nosso dinheiro, oriundo de verbas federais que chegam aqui todo mês. Pronto.

Somos uma categoria duplamente envergonhada. Como pode isso? Como Fátima chegou ao seu oposto? E por que Fátima chegou ao seu oposto? O que diabos ocorre com Fátima Bezerra?

E nós, professores? Precisamos fazer o enterro de Fátima Bezerra. Ela nos enganou de forma que nem Rosalba ou Robson fizeram. Fátima Bezerra é a mulher do tamborete. Ela nos humilha da mesma forma que outrora o fez Geraldo Melo. O caixão de Fátima deve ser o mesmo caixão de Geraldo Melo. Para ambos o mesmo caixão.