*Alexsandro Alves
AVISO: CONTÉM SPOILERS!
O filme “The Flash” estreou abaixo das expectativas de mercado. Sua bilheteria não foi lá essas coisas e isso pode prejudicar a intenção de quem ainda não viu o filme. Porém, é incompreensível esta bilheteria, porque o filme é muito bom! O filme tem ritmo e tem estrutura e há sentido nos arcos desenvolvidos nele. Sobretudo o drama de Barry Allen (o excelente Ezra Miller) é muito bem desenvolvido: há começo, há desenvolvimento e há fim. O roteiro é bem construído.
Alguns detalhes podem carecer de certa explicação no filme, porém não sejamos como o jardim da infância que precisa que adultos lhes expliquem tudo. Por exemplo: como a Supergirl conseguiu seu traje? Vamos nos poupar. E falando em Supergirl (Sasha Calle), ela deveria ter sido mais utilizada no filme, pois suas cenas estão ótimas. Ela teria entregado muito mais caso o roteiro lhe pedisse.
O Batman de Michel Keaton está literalmente velho, acabado. Seu suicídio heroico é um fim acertado, um dos melhores momentos do filme. É um Batman triste, porém sereno. É significado que nunca diga “Eu sou o Batman”, e quando Barry fala essa frase, que nunca pode faltar em um filme com o Batman, Bruce apenas responde com um sorriso forçado, quase como se estivesse ali sem querer.
O vilão, o general Zod, de Michael Shannon, é aquela perfeição maravilhosa que admiramos em O Homem de Aço (2013). E falando no fabuloso filme de Zack Snyder, muitas cenas do filme de 2013 são reaproveitadas – as cenas da invasão a Metropolis, as transmissões de tv em que ele anuncia a invasão, os diálogos com militares estadunidenses. Só lamentamos que seu tempo de tela não tenha sido maior.
Os personagens coadjuvantes, muitos deles heróis de outros filmes do universo DC: o Batman, de Ben Affleck, a Mulher-Maravilha, de Gal Gadot e outros, inclusive de filmes e séries de tv, e mesmo de filmes nunca concluídos, são tão bem distribuídos na trama, que podemos cogitar que o roteirista entende e gosta dessas histórias. Eles estão no filme, cada um, com um propósito bem delimitado.
Os efeitos especiais podem não estar tão perfeitos como desejamos, mas não são ruins. Sente-se falta, e a turma mais jovem pode reclamar, de uma finalização mais trabalhada, aqui e ali, nas cenas de batalha entre os kriptonianos e os heróis, mas não é motivo para escândalos absurdos. O filme entrega uma boa história em todos os seus momentos, e isso vale tanto quanto para diminuir esse desconforto visual, que é de fato um desconforto menor.
Quem já leu a história em quadrinhos a qual o filme se baseia: Ponto de Ignição, já publicada no Brasil pela Panini e pela Eaglemoss, notará algumas faltas, como o bóton e a carta, por exemplo. Estes dois itens dizem respeito aos personagens Rorschach e Batman, respectivamente. O primeiro foi cortado dessa adaptação cinematográfica, e quanto ao segundo, colocar a carta aumentaria o tempo de tela do filme, além de centrar muitas cenas no Batman.
A trama, portanto, foi enxuta para que apenas Barry Allen tenha protagonismo. Outra mudança que gera reclamação é a troca do Superman pela Supergirl. No quadrinho, é ele quem os soviéticos prendem e torturam, no filme é ela. Praticamente o Superman não aparece, há algumas citações visuais ao personagem, como por exemplo, uma cena em que ele é mostrado salvando uma cidade de uma erupção vulcânica.
Momentos maravilhosos são quando as várias Terras e linhas temporais estão colidindo e são mostrados vários Supermen, incluindo o clássico de Cristopher Reeves, que surge com sua prima Supergirl, de Helen Slater, do filme Supergirl, de 1984; outros Batmen também são mostrados. De seriados das décadas de 40, 50; é uma maravilha infinita. Mas sentimos falta dos atores/personagens do Arrowverse. Foi uma grande mancada de edição.
Uma falta a ser sentida é mesmo a de Henry Cavill. Que triste que o tenham cortado da versão final. Sim, ele gravou cenas nesse filme. Há uma cena pós crédito inteiramente descartável entre Barry e Arthur Curry (o Aquaman, de Jason Momoa), mas é uma besteira sem fim. Pode sair da sala de exibição quando os créditos subirem. E para que cena pós crédito? Isso é uma desonestidade: todo filme termina antes dos créditos.
Por fim, torno a dizer que a bilheteria baixa é um erro. O filme é excelente. E essa não adesão do público só se explica pelas decisões equivocadas da Warner. Sabemos que a moda agora é universos compartilhados. Então a Warner lança um filme com super-heróis que nem estarão em outros filmes, isso desanima o público, que quer ver esses atores vivendo os mesmos personagens em outros filmes.
No entanto, a Warner afirma que Ben Affleck (Batman), Gal Gadot (Mulher-Maravilha), Henry Cavill (Superman), não estarão mais nos próximos filmes do estúdio. Isso entristeceu o público. Na imaginação dele ecoa a pergunta: por que eu perderia tempo com esse filme, se seus atores não darão continuidade a esse universo? E o público, até certo ponto tem razão. Nós queremos um planejamento nesse sentido: atores/personagens em uma sequência de filmes.
Minha avaliação geral para o filme é: muito bom.