*Franklin Jorge
Artista visual, poeta, agitador cultural, fundador de uma Associação de Cornos, compôs um dicionário específico, muito didático sobre a arte de ser corno. Suas performances abriram-lhe as portas do primeiro mundo quando ele, ao fazer uma intervenção em 2016 na Bienal de Veneza, acertou em cheio o depauperamento da cultura em todo o mundo; a pouca exigência de qualidade, o demérito e a má-qualidade, acasaladas; o que o fez sintetizar tudo numa sentença provocativa: “Toda merda agora é arte”.
Uma frase que sintetiza e resume um processo de emburrecimento e fundamentalismo. A ascensão e a tirania do conceitual à serviço de ideologias duvidosas. A anulação do intelecto, a criação de uma língua universal, rebaixado o exercício do pensamento, reduzindo o homem a confinamento mental.
Fábio Ojuara, artista conceitual, performático, aquilatando a decadência de sua épocam procriou essa síntese. Ninguém, antes dele, disse tanto sobre uma época em tão poucas palavras.. Evidencia o avassalamento da cultura ao demérito, à falta de noção e discernimento.
Imprimiu Fábio Ojuara seu passaporte estético com um dístico e uma tampa de privada nos ombros. Tornou-se referencia em um mundo tocado pela culpa. Assim sua arte empática, street art, intervencionista, conceitual. Em um mundo de falsificações e proletarização dos artistas, cada vez mais dependentes de subvenções do governo.
Com a tampa de uma privada sobre os ombros à guisa de capelo acadêmico duma nova sociedade, Ojuara aplicou-se a classificar os cornos. Deu-lhes status e voz. Deu-lhes até um dicionário. Sim, ele dicionarizou a cornice sobre a qual, na época, escrevi e aborreceu tanto o prefeito famoso por surrar jornalistas com cipó-brocha, flexível e cheio de juntas perfurantes. O povo de Ceará-Mirim aplaudiu Ojuara.
Como alguém que desafina o coro dos contentes.
Faltou marketing à instalação de Ojuara contra o Covid 19. Arte de rua, por excelência. Podia ter sido uma grande performance e render mídia gratuita para a cidade.