*Alexsandro Alves
Eu sou próximo da poesia simbolista e parnasiana, porém se há um poema que brinca comigo e vez por outra minha vida me leva a encontrá-lo nos lugares e nas pessoas, é este de Gullar.
Não lembro se o conheci através de Gullar ou de Raimundo Fagner, porém tenho uma certeza: a música sempre ecoa, não tem como.
“Uma parte de mim, é todo mundo / outra parte é ninguém…”
Já imagino a voz fanhosa do cearense e seu dedilhar no violão.
Hoje estava pensando nele. E pensei numa frase de Pessoa, sobre o indivíduo que conhece, deve ser coisa de Caeiro, não lembro exatamente, mas a frase afirma que é triste conhecer. Na verdade, eu não pensei voluntariamente, simplesmente a frase veio.
O eu lírico do poema de Gullar se afirma pelas contradições, e não busca mesmo resolvê-las. A dúvida é se isso seria arte.
Então, a partir desse poema, podemos entrever as diferenças maiores entre arte e ciência.
Porque o lugar das explicações não é na arte. A arte funciona quando nada diz, quando nos convence que conhecer será sempre impossível: “fundo sem fundo”, como admite o poeta. Pensar pela cabeça de um poeta é não pensar, é sempre ouvir música.
O poeta retalha os significados, os embaraça e não deve explicações de seu resultado. Por vezes tentamos decifrar, e mesmo gostamos de ouvir o poeta falar sobre seu processo criativo. Mas não podemos esquecer que o poeta responde à Esfinge com novas perguntas.
O significado de um poema é o próprio poema, o poeta precisa chegar a um ponto tal de sua escrita, que pareça uma criança desenhando. A criança é a vertigem enquanto o adulto é a linguagem, na antítese refinada de Gullar. O problema é nos achegamos mais à segurança da linguagem, sua objetividade, do que aos escorregões subjetivos da vertigem, e a criança quando brinca está sempre na vertigem, não na linguagem.
Deveríamos, como propõe Caeiro, viver mais e não buscar explicações? Ao invés de almoçar e jantar, viver sempre em espanto, seria arte?