*Luís da Câmara Cascudo
Um velho leitor pergunta-me onde ficava, na cidade do Natal, a Travessa do Medeiros, que ele deparava menção em jornais antigos e não conseguia localizar.
Corresponde à atual Travessa Venezuela, no bairro da Ribeira, ligando a Rua Doutor Barata à Rua Chile, antiga do Comércio. É a primeira travessa, vindo da Avenida Tavares de Lira.
Aí estava o armazém de um comerciante de Natal do passado. Antônio Idalino de Vasconcelos, ao redor de 1870.
Naturalmente o nome era apenas Beco de Antônio Idalino e assim toda a gente o chamava.
Quem desembarcava no cai Pedro de Barros (Tavares de Lira, hoje), alcançava a Rua Correia Teles (atualmente Doutor Barata) passando pelo Beco de Antônio Idalino. era de tráfego relativamente intenso e daí a popularidade do topônimo.
Mais ou menos em 1885 estabeleceu-se no Beco de Antônio Idalino a Farmácia Medeiros, do farmacêutico Victor José de Medeiros, que se tornou afreguesada e conhecidíssima. O dono era homem letrado, conversando bem e de trato agradável. Como no momento era ele dono de uma das duas únicas farmácias da cidade (a outra era a do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, na Rua Tarquínio de Souza, na Rua Chile dos nossos dias) ficou sendo amigo de todos porque todos recorriam à sua ciência e recursos imediatos.
Beco de Antônio Idalino passou a ser a Travessa do Medeiros e mesmo a Câmara Municipal lhe deu este nome em 13 de fevereiro de 1888.
O batismo pegou e ninguém a dizia de outra maneira. Era Travessa do Medeiros, para todos os efeitos urbanos.
Vitor José de Medeiros faleceu no Recife em 24 de outubro de 1900, onde fora submeter-se a um tratamento médico.
Estava a cidade do Natal, ou melhor, o Conselho da Intendência Municipal, procurando naquele tempo, fazer uma campanha de boa vizinhança e assim rebatizou vários logradouros com os nomes das nações sul-americanas, de relações amigas com o Brasil.
Pela resolução número 74, de 5 de dezembro de 1902, a Travessa do Medeiros ficou sendo oficialmente Trave4ssa Venezuela.
O novo título demorou em popularizar-se porque ainda em 1910-1915 diziam os velhos natalenses Travessa do Medeiros e não Travessa Venezuela, como era de justiça repetir
Com o rodar do tempo, o antigo nome foi desaparecendo com os derradeiros fiéis e permaneceu, na memória coletiva, o título dado pela Intendência em 1902, Travessa Venezuela.
E a travessa do Medeiros não voltou a surgir na lembrança de ninguém. Mas relendo jornais de outrora, reaparece, como um fantasma sem pouso porque nem toda gente sabe onde ficava a travessa.
É o que faço agora, atendendo à consulta gentil do velho leitor…
A República, 26 de março de 1959.
