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Três Poemas de Franklin Jorge

Ao ler sua mão, quando ainda menino no Assú, uma cigana lhe profetizou um destino de muitas letras. E a profecia se cumpriu em um escritor dono de um estilo singular, desenvolvido através da formação de um espírito combativo e controverso. Abaixo, três poemas do escritor Franklin Jorge.

*Franklin Jorge

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A CIDADE MÍTICA

               a Jarbas Martins

Cidade de meus dias oceânicos,
pareces reinar sob o céu
serenamente estático,
enquanto sobre as águas,
sem memória — Imortal —
o ar esplende,
Cidade andrógina mais alta que o mar,
opulenta de seu sangue,
presides as espumas felizes
que fluem entre meus pés nus.

       RUA GRANDE

         Fumo e apitos
escalavam a noite;
fragor de trens teciam
labirintos de ferro
sob a caterva dos céus.

       POEMA ELIOTIANO

Cidade enclausurada no Tempo,
onde a morte é uma pousada.
Entre vigílias, caminhei por estas ruas,
à espera do sopro da morte.
O odor acre dos becos de Goiás!
Tuas esquinas macias acordam
um coro de murmúrios:
o ar da noite aqui é puro
e dos jardins ensombrecidos evola-se
o cheiro carnal das magnólias…
Um liquido céu difunde a lua navegante,
preguiçosa e arrevesada
como um caracol que divaga.
Cidade irreal, boa noite.
Boa noite, Goiandira do Couto.
Boa noite, Doutora Amália.
Boa noite, Alcyone Abrahão.
Dona Jandyra, dona Manainha.
Gentis senhoras, boa noite, boa noite,
boa noite.

 

Edvard Münch, Noite na Avenida Karl Johann, 1892