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Um álibi para o totalitarismo

Em defesa do politicamente incorreto, escritor e advogado baiano afirma que seu contrário coíbe o pensamento livre e a discordância de opiniões; discursão, sobre a qual o autor colaborará com Navegos nas próximas três quintas-feiras, divide a intelectualidade ocidental

Elicio Santos do Nascimento

Quando questionado sobre a temática, o escritor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa afirmou que o politicamente correto é inimigo da liberdade porque rejeita a honestidade e a autenticidade. “Temos de enfrentá-lo como a distorção da verdade”, asseverou.

Em contrapartida, a escritora e pesquisadora de Harvard Moira Weigel defende, em um livro sobre a história do politicamente correto, que ele não existe. Trata-se apenas de um inimigo imaginário. Para Moira, o politicamente correto é sinônimo de educação. Segundo ela, o politicamente correto é somente um conceito pejorativo, adotado pela direita, para criticar a quem não se utiliza da liberdade de expressão para ofender os outros. Quando interrogada a respeito, ela afirmou em entrevista: “A diversidade aumentou. Quando isso acontece, a maneira como você fala também muda, e você passa a se preocupar em não ofender os outros. Não existe nenhuma organização política secreta forçando as pessoas a falar de certa maneira. É importante lembrar que liberdade de expressão não quer dizer que uma pessoa pode sair por aí ofendendo as outras”.

Afinal, quem está com a razão? O que é esse politicamente correto tão defendido por uns e criticado por outros? Seria uma ilusão, um ideal igualitário ou um posicionamento ideológico disfarçado de humanitarismo?

Vale ressaltar que, tanto os favoráveis quanto os contrários ao politicamente correto, reconhecem o uso dele como uma forma de salvaguardar algo. Seus defensores afirmam que ser politicamente correto significa defender grupos minoritários como negros, gays, pobres, LGBTs etc., enquanto seus críticos o configuram numa categoria de defesa ao ideal esquerdista que, em tese, visa proteger a diversidade social, mas na verdade intenta calar os que divergem de seus posicionamentos. Bem, pode-se definir o politicamente correto por meio de algumas perguntas:  1ª) possuir preconceitos é natural? 2ª) Discriminar é necessário? 3ª) Ser honesto intelectualmente, ainda que se ofenda a terceiros, garante o pleno exercício da liberdade expressão? As respostas são positivas. Mas outras indagações são necessárias. 1ª) O politicamente correto invalida as atividades supracitadas? 2ª) Essas práticas possibilitam o real desenvolvimento crítico de ideias? 3ª) O politicamente correto as inviabiliza? As respostas são novamente afirmativas. Logo, o politicamente correto é contrário ao pensamento. Dessa forma, ser contra o politicamente correto significa ser a favor da liberdade. Ainda que essa proposta se apresente como um ideal igualitário em defesa das minorias sociais, na verdade ele não passa de um instrumento ideológico para a introjeção do chamado “pensamento de manada”. Ou seja, manieta o individualismo no que ele possui de mais valioso: o direito de discordar.

Elicio Santos do Nascimento, advogado, servidor público municipal em Ilhéus (BA), colunista das revistas “Avessa” e “Ema” e colaborador dos sites Philos, Recanto das Letras e Ilhéus.Net, é autor dos livros “Fábrica de Sentidos” (Leia Livros; 214 págs.; 2017), “O Porquê das Coisas” (Leia Livros; 80 págs.; 2016), “Contos Urbanos” (Redondezas Contos; 44 págs.; 2014), dentre outros.

DUALIDADE “Mask in Reverse”, do americano Matthew Connors, diretor do Departamento de Fotografia do Massachusetts College of Art & Design; a obra, exibida na mostra New Photography 2018 do MoMA, critica os politicamente corretos que não expressam verdadeiramente suas posições políticas, os quais muitas vezes utilizam “máscaras” para acusarem seus adversários do que realmente pensam e são