*Jayme Hipólito Dantas – Escritor, jornalista e Promotor de Justiça
Acho que a primeira vez que vi Franklin Jorge foi numa exposição de pintura em Natal. Era muito moço ainda. Também, evidentemente, mais magro. O rosto, pálido como um poeta romântico, marcado por uns olhos brilhantes e aparentemente arrogantes. Me pareceu também que havia nos seus lábios a presença constante de um riso bem pouco espalhado e carregado de ironia.
Estava ao lado dum Cristo pouco comum, desenhado com traços talvez intencionalmente livres e antitradicionais. Para dizer a verdade, um Cristo ao mesmo tempo masculino e feminino. Sensualíssimo. Dorian Jorge Freire, que estava comigo, aproveita e apresenta-me, ali, o cronista Franklin Jorge, que eu já conhecia de nome. Pergunto de quem era aquilo, e ele só me diz “meu”. Mas é um Cristo diferente, eu lhe digo. “É, por isso é que é o meu Cristo” – ele me diz, justificando-se.
Compreendi que estava diante dum jovem em processo de afirmação do talento, que já me parecia no mínimo instigante. Depois comecei a ler Franklin Jorge em livros, que ele passou a publicar, aqui e lá fora. Surgiu-me o poeta E surgiu igualmente o crítico exigentíssimo de artes plásticas.
Enfim, o escritor Franklin Jorge. Com um detalhe, um escritor que principalmente sabe praticar a arte da boa escrita. Um artesão da prosa, como pouquíssimos, por cá. Um artista da palavra, sério, sem desleixos visíveis.
Aqui está uma mostra palpável de seus pendores. Um livro de confissões, na sua maior parte. Mas também de crítica, de anotações sobre problemas literários. Sobre pessoas e fatos da vida. É uma síntese ao mesmo tempo do caráter de Franklin Jorge como pessoa e como intelectual. Em suma, um apanhado da sua versatilidade, inclusive como tradutor.
O leitor se deliciará com seus diálogos com repórteres de jornal, com sua destreza, do mesmo modo que com sua independência e abrangência do seu relacionamento com a vida cultural do país. Até com a sua fúria, afinal também uma das suas características. Ou, se quiserem, um dos seus dons.
Mas, sobretudo haverão todos de admirar a prosa deste excelente escritor. Deste puro, saudável, belo cultor da forma, chamado Franklin Jorge.
*Prefácio do Jornal de Bolso (Nossa Editora, Natal, 1984), esg.