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Um clássico (literário) popular brasileiro

Fundador de Navegos evoca um autor e um clássico da nossa literatura, o escritor e jornalista José Cândido de Carvalho (1914-1994) e sua carismática personagem, membro da Guarda Nacional, fazendeiro e quixotesco Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, como Alonso Quijano um defensor de causas perdidas, que lhe deu fama inconteste e o levou a vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras e a direção do Instituto Nacional do Livro, um dos maiores empreendimentos do Governo Militar (1964-1985). Transformado em filme por Maurício Farias em comemoração ao centenário do escritor.

*Franklin Jorge

O fluminense José Cândido de Carvalho fez nome em todo o Brasil como cronista da revista O Cruzeiro e se consagrou nas Letras, definitivamente, com uma criação ímpar: o coronel Ponciano de Azeredo Furtado, personagem um tanto picaresco como que saído de um gênero ibérico clássico, para alguns, a nossa versão de D. Quixote, embora seus moinhos de vento tenha sido um lobisomem que demandou e apavorou suas terras fluminenses. Até na estrutura romanesca, a rigor, os principais personagens dessa obra, excetuando-se o fantasmagórico sobrenatural, são três: o coronel, seu meio-irmão que ambicionava suas terras, e Esmeraldina, seu eterno amor.

Lando em, 1964, um ano auspicioso para a Cultura Brasileira em geral, especialmente para os criadores de talento e os grandes mestres esquecidos que não tiveram a sua obra censurada, mas exaltada, republicada e distribuída em grande escala nas bibliotecas já existentes e nas inúmeras que se criaram como braço do Movimento Mobral de Alfabetização. Não admira que o Governo Militar tenha criado o Instituto Nacional do Livro, que executou admiravelmente essa política de democratização do livro e da leitura, como não teríamos depois em nenhum governo ‘democrático’.

Sem dúvida, não como negar, há similitudes entre a personagem de Cervantes e a do fluminense em pauta. Cada um, a seu modo e em seu estilo próprio, nos fazem rir e pensar, sem concessão aso meramente pitoresco, pois, apesar de humorísticas, são obras sérias, as que contém o cavaleiro e o coronel que aplaudimos espontaneamente, tamanha a empatia que criam no decorrer de suas peripécias e existências aventurosas.

O coronel Ponciano, membro da Guarda Nacional criada pelo Imperador em reconhecimento a serviços prestados à comunidade ou mesmo por mera vaidade dos pleiteantes agraciados, conquistou a simpatia dos leitores por suas peripécias e por tornar acessível a muitos uma cultura rural muito distante da maioria dos leitores citadinos que já se deliciavam com as crônicas produzidas por seu autor, escritor dotado de um talento personalíssimo que não lhe proporcionou discípulos. Era único no gênero.

Transformado em filme por Maurício Farias em 2005, tendo nos papéis principais Diogo Vilela, Selton Melo e Ana Paula Arósio, recentemente falecida, seus realizadores produziram a seguinte sinopse:

Ponciano de Azeredo Furtado é um coronel de patente e fazendeiro por herança, que luta contra seu irmão de criação Pernambuco Nogueira para manter as terras da Fazenda Sobradinho e conquistar o coração de sua prima Esmeraldina. Para vencer esta batalha, Ponciano precisa enfrentar feras, agiotas e ladrões, além de se envolver com a vida boêmia da cidade e ainda espantar assombrações.

A obra original está disponível em download.