*Franklin Serrão
Em “A Montanha Mágica” do escritor alemão Thomas Mann, seu livro preferido, existe um debate entre dois personagens que certamente é a representação simbólica da conversa sem fim entre esquerda e direita ou, conservadores e progressistas, ateus e religiosos, escolásticos e ocultistas (maniqueístas), monarquistas e jacobinos, etc…
Settembrini, um italiano, é o representante desse progressismo secular que, em nome de um romantismo ideológico, confrontam a Deus, a lógica e a razão.
Settembrini ignora o que, há muito tempo, percebi quando observando pude notar a racionalidade autêntica da natureza no sentido metafísico. sozinho…ainda jovem. Não sabia que aquela percepção, incomum, e que era algo que eu não sabia descrever, era algo de fato comum nos diálogos dos mortos.
Todo o movimento e ações naturais são produtos de uma mente racional. Deus.
Um abacateiro não poderia saber se seu fruto é saboroso para aqueles animais que tem como função transportar o caroço para fins de reprodução. De um mesmo modo, um pé de manga não poderia profetizar que um cavalo ou um macaco se agradaria da manga.
Tentativa e erro alguns podem sugerir. Então em quantas experiências deveriam ser feitas pela árvore? Quantas seriam extintas na tentativa. Essas tentativas seriam na forma de mutações? Lembramos que mutações são extravagâncias para os seres.
Então por trás desse drama existe sim uma mente racional? Um fim em todo o processo ?Uma finalidade objetiva?
Fiquei surpreso em saber que essa minha preocupação era o cerne da filosofia clássica e da escolástica. Conhecer a verdade através da investigação da realidade.
No contraponto à verdade, ideários dos mais excêntricos e variados surgiram com criações para fazer do homem um cético em relação a si mesmo e em relação ao mundo e a existência. Centenas de filósofos surgiram contra a realidade, ora negando-a, ora minimizado – a. O alvo sempre foi Deus.
Então contra o cristianismo, gigantescos movimentos culturais afloraram, jogados sobre solos inférteis. Mecenatos falsos investiram contra a tradição escolástica, corrompendo valores num suposto caráter obscuro, místico; afloramento de trevas. Arquiteturas foram erguidas em oposição ao gótico, numa posição esquisita de querer reviver um passado clássico, que ficou para trás justamente pelos mesmos erros dos que agora queriam revivê-lo.
No fim das contas, sem conseguir prosseguir adiante por limitação que a própria falsidade de suas ideais imputava, decidiram cortar as cabeças dos reis. Num pecado infame criaram uma nova ordem mundial, a República que, como exemplo de um tempo falido, tinha ficado no passado e certamente, era a mais fiel causa do fim do mundo clássico.
Chegou então a modernidade. Para passar férias num campo hermético, psico hedonista, distinto de virtudes, valores, leis naturais, monarcas, e da realidade como verdade.
O cristianismo sobreviveu apesar de tudo. Heresias não foram poucas, mas a presença da intervenção divina sempre esteve entre os homens — corrigindo-os.
No livro mágico, o papel conservador e feito pelo Naphta; um padre jesuíta.
Os diálogos, ou debates entre os dois personagens é um dos pontos altos do livro, dentre outros. Seria na minha opinião, um anabolizante, fermento; o sal que faz aparecer ainda mais o sabor dessa deliciosa obra de arte literária desse fantástico, meio brasileiro, escritor.
Sua mãe era brasileira. Júlia da Silva-Bruhns.
O debate entre Settembrini e Naphta é parte de um ciclo sem fim, é a antítese dialética ideológica que surge nos tempos, com figuras diferentes, mas igual na essência.
No debate no livro, de um lado, está aquele a procura por meio da razão, do conhecimento possível. Do outro lado, uma forma de pensar errado acusa seu opositor de místico e obscuro. Essa parte é a representação da fantasia que em tempos já foi chamada de vários nomes. Dostoievski chamava de niilistas e de modo, comparava-os aos demônios. Demônios que iam se apoderar da Rússia e jogá-la no abismo.
Essas ideias do nobre Settembrini, quando ganham musculatura entre as massas, acaba como histórias muito mal terminadas.