*Juan Jose Saer
Pelo prazer de escrever algo: depois de muitos dias de silêncio escriturístico, fui assaltado no banheiro, enquanto lavava as mãos, antes de me deitar, a vontade de estar, à luz de uma lamparina, escrevendo. Desejo de escrever, não de dizer algo, quero escrever como escritor, mas também quero escrever sem outro motivo senão o desejo de estar à luz da lâmpada, escrevendo. Balançar no equilíbrio infrequente e perecível da mão que vai deslizando da esquerda para a direita, ouvindo o riscar da pena na página do caderno, vitorioso por ter finalmente compreendido que o desejo de escrever é um estado independente de toda razão e de todo conhecimento, livre de qualquer exigência de estrutura, estilo ou qualidade, e pleno do clamor silencioso de palavras que não são de ninguém, que ninguém pode acumular ou guardar para si – a voz do mundo e de cada um que ressoa através de mim na noite pacífica. Cada vez que esse desejo vem a mim, traz consigo a validade de todo o universo e daquela partícula sem nome do universo que sou eu.
Juan Jose Saer, escritor