Um escritor espirituoso e lacônico

*Franklin Jorge

O que o levou a escrever?

Respondi para mim mesmo esta questão na orelha do meu livro Não me Abandone: “Porto Alegre, Praça Pinheiro Machado, a esquina do Lombas, Engenheiro Eletricista, Bacharel em Administração, empreendedor, dirigente público em mais governos do que deveria, filhos, São Paulo, Boston, futebol, consultorias, participações institucionais, Amsterdam, Shanghai, café, Brasília, testemunha da extinção dos dinossauros e a decisão de escrever.

Contar histórias é consequência disto tudo.”

Como descobriu a literatura?

Quando eu ainda não sabia ler, ouvia meu pai referindo-se com simpatia e admiração a alguém que eu não conhecia. Chamava-o de “o engenhoso fidalgo” e referia-se a ele como “parco de carnes”. Admirei Dom Quixote e todos os grandes autores através das falas de meu pai.

Alguém o inspirou?

Objetivamente a escrever, não. Na vida, as inspirações são muitas. Fiquemos no genérico.

Como vê o humorismo na literatura?

Assim como na vida: imprescindível. Difícil, mas absolutamente necessário.

Considera seus textos surrealistas?

Esta pergunta me seduz e envaidece. Admiro o surrealismo em todas as suas manifestações artísticas. Não penso a respeito nem classifico meu trabalho, mas, repito, a pergunta me agrada.

Há futuro para a literatura no Brasil?

Futuro para a literatura como arte, sim. Entretanto, é quase impossível a sobrevivência objetiva de quem se dedica a ela. A conciliação das afirmativas vai depender da tomada de consciência por parte de nossa sociedade e de nossos agentes econômicos – uma empresa que lê é mais competitiva; um mercado que lê é maior; um país que lê tem mais chances de ser justo e oferecer dignidade para sua gente.

Como vê essa proliferação de autores, alguns sem a mínima literariedade?

Minha amostra é muito pequena. Não me sinto em condições de responder adequadamente a esta pergunta.

Tem alguma idiossincrasia ou mania?

Sim, dizer que não as tenho.

SERVIÇO