*Antenor Laurentino Ramos
Desejei muito, conhecer Djalma Marinho, nunca pude vê-lo de perto. Foi, talvez, uma das maiores frustrações de minha vida. Tinha inveja até de Afonso, o meu irmão. Via-o em contato com o grande parlamentar e queria tanto ter com ele relações de proximidade. Eu era muito moço e a minha timidez, fazia-me um mero coadjuvante das coisas.
Acostumei-me a ouvir falar dele lá em casa. Os nomes “Nestor“ e “Amélia” eram pronunciados com sagrada gratidão em nossa família. Minha avó e minha mãe deles falavam sempre. Era uma das famílias mais distintas de Nova Cruz.
Mamãe recordava para nós os seus tempos de “menina” e “moça”, e o nome desse povo era freqüente. De tanto descrever seu Nestor e sua família, passei por sua causa e pelo carinho que por eles, ela nutria, a vê-los como se fossem sem igual. Imaginava Nova Cruz, tendo-os como referência.
E os seus olhos brilhavam de emoção, ao me narrar acontecimentos de Nova Cruz dessa época. Falava-me das festas da cidade. Não havia clubes nesse tempo. As festas eram realizadas na casa de “Seu Arruda” ou na de “Seu Nestor”. Era também na casa de Nestor Marinho que ela tomava suas aulas de piano, orientada por sua professora, Celícia Marinho, filho do chefe político.
Djalma já estudava na Faculdade de Direito do Recife. Dizia-me ela que era tímida. Encabulava-se quando ele chegava e a cumprimentava. Doutras vezes, estava ao piano a tocar e sentia que alguém a observava por trás. Era o seu pai, Ernesto Belmont, feliz e emocionado de ver a sua filha adotiva querida, nas aulas dessa maravilhosa Arte do espírito, que é a música. Tocar piano, nesse tempo, era para uma moça, sinal de distinção. Anos depois, quando íamos a Nova Cruz, mostrava-nos, ela aquela casa, tão bonita e portentosa, símbolo de um passado distante e glorioso.
Visitei, algumas vezes, em Natal, Célia, Celícia, Cacilda e Creusa, orgulhava-me de ser por elas recebido. As filhas de “Seu Nestor” eram pessoas da melhor qualidade. Notava-lhes o carinho especial que tinham por minha mãe. Relembravam, ali, a convivência que com ela tiveram em Nova Cruz. Infelizmente, o mesmo não posso dizer de Djalma.
Certa noite, pude ouvi-lo, num discurso, na Rua grande, em Nova Cruz e nada mais do que isso. Era pouco para mim!
Além de um passado que me era caro ao coração e porque era filho da mesma terra que viu minha nascer, admirava-o também pelo homem culto, bom orador, jurista e político de projeção, que foi numa das fases mais difíceis da história de nosso país.
Quase Governador, derrotado por um dos maiores fenômenos eleitorais do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves, nem por isso, deixou de elevar, bem alto, o nome de sua cidade-natal e do seu Estado. Deixou para todos nós, uma bela lição de civismo e de democracia.
Djalma Aranha Marinho é indiscutivelmente, um dos maiores vultos que ao Rio Grande do Norte, Nova Cruz deu! Nunca esqueceu de suas raízes, apesar de ter se agigantado politicamente no Brasil. É dele, a frase sentimental e simbólica do que estamos a dizer: “Minha vida começa na Estrada de Ferro de Nova Cruz, na Estrada de Ferro da Great-Western e foi ela, acrescentamos mais, o pano de fundo de sua bela história, história de vida de um potiguar ilustre e de um grande estadista, espécie que entre nós, já começa a rarear .
Sem ter conseguido realizar o meu sonho de conhecê-lo, em pessoa, contento-me a sua rica biografia. Qualquer cidade que tenha um filho desse porte, tem de tudo para dele se orgulhar!!
.
[/vc_column_text]