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Um homem que dá vida aos mortos e voz a quem não tem voz

Em comemoração aos 70 anos de Franklin Jorge, Navegos passa a publicar a partir de hoje até o dia 8 de Setembro uma série de artigos e depoimentos amealhados ao longo dos últimos 50 anos sobre a vida e a obra do escritor e jornalista nascido no Ceará-Mirim

*Carlos Roberto de Mirada Gomes – Professor Emérito da UFRN, Advogado e escritor, membro da Academia Norte-riograndense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do RN, acompanha há mais de 40 anos a trajetória do escritor que se apresenta como uma pobre homem de Letras do Criará-Mirim.

De uma forma protocolar Franklin Jorge do Nascimento Roque nasceu na Terra dos Canaviais, mas foi criado durante bom tempo no Vale do Açu, todos deste Rio Grande do Norte, em 8 de setembro de 1952, no dia da Natividade de Nossa Senhora, Padroeira do Ceará-Mirim. Jornalista, poeta, pintor, crítico de arte, escritor, editor e professor, iniciou nas artes plásticas aos 16 anos e hoje tem várias de suas obras expostas em museus e coleções particulares.

No mapa astral é do signo de Virgem, mas consegue transcender os que o estudam quando afirmam: Virgem é um signo que, em geral, busca a utopia da perfeição. Embora seja um signo prático e bem resolvido no mundo material, a personalidade de virgem não desiste de atingir ou de buscar a perfeição. Em tudo o que faz, a pessoa desse signo se aplica com tanto esmero que é fácil perceber a sua intenção – chegar perto da perfeição. No horóscopo chinês, Dragão de Terra.

Na literatura é um escritor plural, diferenciado tendo, quando criança, forte influência de sua avó materna. Ou, como dizem alguns comentaristas/críticos/concorrentes: talentoso, eclético, enigmático e de língua ferina

É arriscado tentar enumerar os trabalhos que já escreveu, mas dos alguns publicados ou divulgados temos: “Impróprio para menores de 18 anos” – Limiar, 1976, em parceria com a escritora Leila Míccolis; “Poemas Apócrifos” (inFantasmas Cotidianos – Navegos, 1994); “Abaixo do Equador”, “Ficções Fricções Africções” – Mares do Sul, 1999, ganhador do Prêmio Luís da Câmara Cascudo, O Spleen de Natal Vol.1 (1996); O Ouro de Goiás (2012), O Livro dos Afiguraves (2015); O verniz dos Mestres, e Estórias Brejeiras de 2021 pela editora Feedeback. Mas o acervo de escritos inéditos é muito maior…e se mundo mais houvera, lá chegara (Camões).

Empreendedor de incontáveis movimentos literários entre todas as camadas sociais, ganhando experiência com os seus contatos e convivência com grandes intelectuais pelo Brasil afora – Rio de Janeiro, Amazônia, Pernambuco, Bahia, Ceará, Goiás, entre outros, nos quais bebeu da fonte da pesquisa, documentando a vida e os costumes de um país repleto de discrepâncias, também com agricultores, vaqueiros, caçadores, pescadores e ciganos (quando menino, uma cigana de passagem pelo sitio Estevão leu a sua mão e profetizou-lhe “um destino de muitas letras”), os quais influenciaram a sua personalidade e o seu talento jornalístico, daí a sua paixão por contar a história de gente e registrar o que é despercebido pela grande maioria das pessoas.

A maior parte de sua vida desempenhou a função de jornalista, sendo editor de cultura nos jornais Tribuna do Norte, O Jornal de Hoje, O Novo Jornal  e O Diário de Natal/O Poti, Jornal de Natal. Foi idealizador da Pinacoteca do Estado, que dirigiu por duas vezes; É criador do Selo Editorial Feedback, através do qual tem publicado vários autores locais e seus próprios trabalhos. Entre seus últimos livros, “O Livro dos Afiguraves” retrata a história da cidade de Bom Jesus da Serra, na Amazônia, onde dirigiu o Complexo Rio Branco de Comunicação (jornal e emissora de TV). De volta a Natal, em 1993, editou o caderno semanal DN Revista e assumiu a chefia da Sucursal do Diário de Natal o Poti, em Mossoró. Foi um dos três editores que implantaram, em 1997, o Jornal de Hoje. Em 1998 obteve por unanimidade o Prêmio de Literatura Luis Câmara Cascudo, atribuído pela Prefeitura Municipal de Natal. Atualmente dedica-se ao web-jornalismo, editando a revista virtual Navegos. Vive em Natal, cidade cenário da sua obra de ficção.

Franklin Jorge é sincero demais e tem uma bagagem cultural tamanha que lhe projeta acima de outros, quase sempre em melhor posição profissional. Daí as críticas e a inveja. Pessoa estranha ao seu modo, talentosa, reconhecido como intelectual de primeira linha, mas ainda não apoiado como deveria ocorrer. O Rio Grande do Norte ainda não sabe olhar para os seus bons talentos.

Entre os seus mais íntimos, dizem sua afirmação: “Atingi uma idade na qual posso mensurar a extensão do meu fracasso. Em nenhum momento da minha vida, antes de me tornar o que sou, conjecturei de abdicar do meu projeto – ou utopia, caso queira – de, através da elaboração de uma obra que me justificasse no futuro, dar o testemunho de minha existência: o breviário de uma existência dominada pelo ato de escrever”.

Acaso tenha comentado isso, creio que ocorreu em algum momento de depressão, muito comum entre os escritores solitários. Para mim ele continua genial apesar dos seus próximos 70 anos. Desculpe não ter obedecido as doze linhas – não sou mágico. Esse é o meu depoimento, feito com carinho.

Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado, escritor, Professor Emérito da Universidade Federal e membro da Academia Norte-riograndense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do RN