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Um jornal que desafia o tempo

Criador de publicação que começou sendo reproduzida em mimeógrafo, sistema há muito desaparecido ao ser superado por novas tecnologias, o jornalista José Alves mantém O Alerta em circulação ininterrupta desde 1981. Há pouco atingiu sua 500ª edição.

*Franklin Jorge

Tendo surgido ainda sob o Regime Militar que governou o país por 29 anos, alguma vez vc chegou a ser constrangido pela censura? Chegou a sofrer alguma punição? Respondeu a processos?

Sim. Era o ano de 1980 e estávamos vivendo  os anos sob a intervenção militar, no Brasil. Ao publicar uma matéria que citava o então governador do Estado, Lavoisier Maia e o saudoso prefeito Janilson Ferreira, ambos, do PDS, partido que dava sustentação ao governo militar, fui intimado a comparecer a Superintendência da Polícia Federal, que funcionava, na Av. Nilo Peçanha, em Natal, para prestar esclarecimento e ser orientado a encaminhar os jornais à PF, antes de ser publicado (para o Setor de Censura). Não respondi a processo por esse motivo. Anos depois, fui processado pela Ong Sociedade Terra Viva, por publicar uma foto, sem citar o crédito do autor, cujo autor, era presidente da entidade.

Como descreveria a passagem da reprodução mimeográfica para a impressão?

Uma enorme mudança. Sair de um serviço que era executado apenas por uma pessoa que manuseava o mimeógrafo e fazer um jornal onde passa por vários processos e profissionais na gráfica, para ser concluído, é um trabalhão, mas, uma grande satisfação ao sair da máquina impressora. É como um parto, que se realiza mensalmente.

O Alerta passou por diversas fases em sua já longa trajetória. Do mimeógrafo à impressão gráfica, o jornal agora tem edição digital.

Durante essa pandemia, dei “um tempo” na circulação do Alerta impresso (desde março de 2020). Passei a enveredar pelas mídias sociais, lançando o blogoalerta.com.br , onde procuro transmitir as informações, principalmente, de São José de Mipibu. Aos domingos, posto publicações mais leves, como crônicas, fotografias do passado, fotos de casarões, entre outros.

A mudança na logística do processo de produção de informações jornalísticas abre a possibilidade alterações relevantes na forma como são produzidas as notícias. Agora qualquer pessoa com acesso à internet e com um sítio web pessoal, mesmo sem formação jornalística, pode publicar informações que julga importantes sem passar pela filtragem de jornalistas, procedimento antes sem espaço no modelo convencional de jornalismo centralizado.

Como vê o desaparecimento de jornais entre nós e no resto do Brasil?

Olha, o jornalismo impresso está em crise.   Está difícil atuar nessa mídia. As mídias sociais estão tendo uma atuação que atende o mercado publicitário. Já os jornais impressos estão fechando no Brasil, aqui no Rio Grande do Norte. Nos últimos anos fecharam O Diário de Natal, O Poti, Dois Pontos, Novo Jornal, O Jornal de Hoje, Novo Jornal…  (todos em Natal) e ainda: O Mossoroense e a Gazeta do Oeste (em Mossoró).

Hoje, o custo para colocar um jornal nas ruas não acompanha com o faturamento.  Esse é o dilema do jornalismo impresso. Mesmo tendo um público cativo que ainda gosta de folhear o jornal, o jornal impresso não conseguirá superar o imediatismo da internet. Essa é a desvantagem que leva o jornal impresso.

Quais são seus planos para o jornal?

Continuar levando O Alerta ao público cativo que conquistou durante sua trajetória,, enquanto eu puder editar.