*Nilson Patriota – Escritor, Jornalista, membro da Academia Norte-riograndense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura do RN
Fantasmas Cotidianos [Edições Navegos, Natal, 1994, esg.] pode ser lido melhor nas entrelinhas do que propriamente no texto escorreito, nas frases, nas palavras. É um livro carismático e cheio de si. Nele transparece uma qualidade essencial para o exercício da inteligência: o humor, o sarcasmo, a zombaria – arte utilizada em todas as épocas pelos que melhor prospectaram os abismos da alma humana.
Franklin Jorge passeia seus vagares poéticos, suas observações filosóficas, suas reminiscências mais queridas, suas boutades. Retrata, aqui e ali, certas figuras que jamais se imaginaram picarescas e que na verdade o foram na intimidade de seus atos. Como Proust, escritor de sua predileção, Franklin vê em um ridículo uma bela generalidade e não o atribui como agravo à pessoa observada, da mesma forma que um médico não iria menosprezá-la por sofrer de um distúrbio glandular ou por um problema muito comum de lesão por esforço repetido. Objeto seu, de finíssimo e elaborado trato, o livro apresenta variados aspectos admiráveis. Um deles é o estilo, o seu estilo, tão apropriado à boa prosa.
Não considero isso uma impiedade do autor, como a muitos poderá parecer, mas uma revelação do seu potencial de bom humor e capacidade de ridicularizar a importância ilusória, o delírio alheio, jamais recriminável, porém criticável. Também me vejo retratado no âmbito de minhas proverbiais limitações, e assim fará quem tiver juízo.
Da leitura daquilo com que Franklin Jorge vem enriquecendo a literatura norte-rio-grandense, cada vez mais me convenço da assertiva do nosso valoroso poeta Jarbas Martins. Ele tem razão em situá-lo como o melhor escritor do Ceará-Mirim. Situo-o também, embora ressalvando que Rodolfo Garcia, Edgar Barbosa e Nilo Pereira antes mereceram o título e a honra que na atualidade lhe cabem. Cada um por sua vez, cada um a seu tempo. Agora é a vez de Franklin Jorge. Endosso, escrevo e reafirmo com admiração.
*Orelhas da 2ª. Edição revista e aumentada [1994]