*Franklin Jorge
Recentemente, numa dessas comunidades de amantes do livro e da leitura deparei-me com um participante que, aparentemente sem ter lido nada ou lido muito pouco ou apenas os livros através dos quais foi alfabetizado, manifestava-se desejoso de escrever “um livro de romance”.
Aconselhei-o, como um primeiro passo, desenvolver o gosto pela leitura e começar a ler, ler, ler, ler desavergonhadamente, porque segundo o mestre de todos nós que escrevemos, Charles Baudelaire, “os livros nascem dos livros”. De fato, causa horror um autor iletrado, mesmo que seja, como alguns que se apresentam como tais, pós-graduados em Letras.
Essas comunidades têm algo de bom, ao desnudar sem tropeços o nível cultural baixíssimo do nosso país, pobre em homens e ideias. Realmente atingimos um nível de nos fazer corar diante de autores que sequer sabem o que é a Literatura e dela fazem troça, embora inconscientemente, através de uma profusão de livros que contribuem apenas para deseducar ainda mais um povo deseducado e à mercê da vontade de governantes despreparados e ineptos.
Certo que temos visto autores sem cultura, infensos mesmo à leitura e ao domínio linguístico, por onde tudo começa e que só adquirível, em síntese, pelo esforço da leitura, pela curiosidade, pela abnegação e pela pesquisa. Querem ser autores desconhecendo o básico do ofício ou confundindo a razão das coisas.
Num país fecundo em analfabetos funcionais, tornou-se um modismo escrever e publicar. Sobretudo por causa da facilidade de publicar, até, por demanda. Como um produto desprovido de valor e mérito, o livro tornou-se um símbolo de distinção meramente descartável, cujo objetivo principal seria o de afagar vaidades e nada mais.