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um poema mais perene do que o bronze

Colaborador de Navegos, devotado a Alta Cultura, aproxima o leitor moderno de poema que engrandece o mundo antigo.

*Alexsandro Alves

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Eu estou maravilhado com a “Ilíada”, de Homero. Se o autor existiu ou se a obra, assim como a “Odisseia”, são frutos de uma coletividade de autores ao longo de décadas, isso é irrelevante para os gregos, pois entendiam a arte como algo comunal, diferentemente de nós, que compreendemos a obra de arte como criação individual.

A “Ilíada” é a fundação da literatura do Ocidente. Estou em seu canto IV de XXIV. A língua usada para escrever seus 15.693 versos em hexâmetros dactílicos, forma tradicional do verso grego, é uma língua artificiosa, formada a partir de vários dialetos, em outras palavras, a língua presente nos versos de Homero, rigorosamente, nunca foi falada em nenhuma cidade-estado grega.

A obra registra os acontecimentos ocorridos no último ano da Guerra de Troia, e sendo assim, é recomendado uma leitura prévia sobre esse acontecimento, ao mesmo tempo mítico e histórico, que durou 10 anos, assim como uma leitura sobre as principais divindades e heróis da Grécia Antiga. Porque eles aparecem e falam, confabulam e tramam.

ongo do poema, são tantas as imagens que aprendemos a ler e a ver em outros autores posteriores, até mesmo naqueles que talvez nem tenham lido a obra, eis a magnitude dessa literatura, ela se faz presente mesmo em quem não a conhece, não é a toa que é a tradição maior do cânone. Todas as epopeias posteriores são devedoras desta: “Eneida”, “A Divina Comédia”, “Paraíso Perdido”, Os Lusíadas” – um deus que gerou outros deuses.

A quem diga que a leitura dessa obra é difícil. Lhes garanto que não é. A única dificuldade de fato está na forma, que é um poema e nós, leitores modernos, estamos habituados, quando pensamos em narrativas longas, à prosa. Ao romance, por exemplo. Então é natural que, por vezes, o foco narrativo pareça se esfumaçar no tempo, isso talvez seja pelo ritmo do hexâmetro dactílico, que pode gerar tanto uma cadência constante, que nos faz ficar alertas, quanto uma espécie de melodia literária, que afasta nossa atenção da página.

Como a modernidade, mesmo nos leitores mais exigentes, nos oferece um mosaico temporal diferente, por ser mais prosa do que poema, a concentração nessa temporalidade exigida para abarcar o poema épico é quase um trabalho hercúleo para alguns. Isso favorece certas críticas impensadas de que os clássicos são inacessíveis. Mas não os são. Trata-se apenas de habituar-se a uma forma hoje não praticada na literatura.

Nós nos reconhecemos nesses personagens à medida que suas ações são detalhadas na narrativa épica. O personagem central é Aquiles. Ele é branco, loiro e tem como companheiro Pátroclo. Este, retratado de pele morena e cabelos negros pela iconografia. A cor da pele e dos cabelos desses homens também define muito de seu comportamento, segundo determinadas tradições gregas, que falarei em outro artigo.