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Um refúgio poético

Tzvetan Todorov, relembra os diários de uma jovem levada para Auschwitz e que escreveu em seu diário sobre a poesia consoladora e revigorante de R. M. Rilke.

*Tzvetan Todorov

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Etty Hillesum, uma jovem judia holandesa que morreu em Auschwitz, autora de escritos comoventes, fez dos poemas e cartas de Rilke seu livro favorito. Lá ela encontrou inspiração para conduzir sua vida, como escreve em seu diário: “Rilke foi um dos meus grandes professores no ano passado, cada momento me confirma isso”. Na última página deste diário, escrito em 17 de outubro de 1942, pouco antes de ser presa no campo de Westerbork, de onde partiria para Auschwitz, ela se questionou sobre o papel que o poeta desempenhou em sua existência, e escreveu:

Foi um homem frágil, que escreveu grande parte da sua obra dentro das muralhas dos castelos onde foi acolhido, e se tivesse que viver nas condições que hoje conhecemos, talvez não tivesse resistido. Mas não é justo e razoável que em tempos de paz e de circunstâncias favoráveis, os artistas mais sensíveis tenham o tempo necessário para procurar com toda a serenidade a forma mais bela e mais adequada à expressão das suas intuições mais profundas, para que aqueles que vivem tempos turbulentos e devoradores, possam confortar-se com suas criações, e assim encontrar um refúgio já preparado para suas angústias e para as questões que não sabem expressar ou resolver, tendo todas as suas energias comprometidas com as misérias de cada dia?

 

Tzvetan Todorov,
Os aventureiros do absoluto