• search
  • Entrar — Criar Conta

Uma culinária que dispensa o sal

Colaborador de Navegos dá continuidade a publicação de textos etnográficos inspirados no seriado da Amazon Prime sobre importante obra cascudiana.

*Francisco Alexsandro Alves

Quando os pais da nação aqui aportaram, as naus traziam, sobretudo, homens. A mãe terra forneceria o elemento feminino, que ocuparia a cozinha portuguesa e transformaria a vida daqueles primeiros homens que aqui chegaram.

Eram as cunhãs. Donzelas de pele amorenada, de corpos sedutores bem diferentes das europeias, seja pela cor da tez, seja pela graça dos movimentos, seja pela inocência da nudez que naturalmente ostentavam.

É difícil, sempre será, imaginar tais momentos sem o exotismo que essa situação carrega. Duas culturas diversas ora convivendo e ora se matando, mas sempre compartilhando saberes e fazeres.

A culinária indígena colocou na mesa do português uma alimentação pobre em sal e rica em pimenta. Os corpos esbeltos dos belos homens e das belas mulheres indígenas, tantas vezes pintados e desenhados pelos artistas das missões, não eram uma idealização europeia. Talvez apenas no que concerne a uma gestualidade um tanto afeminada, típica do Renascimento florentino que a Península Ibérica assimilou e que, de qualquer maneira, se tornaria comum na arte europeia daí em diante, a iconografia indianista dos artistas ibéricos retratam com exatidão e realismo a graça e a beleza dos aborígenes. Eles não carregavam em seus corpos a gordura excessiva de outros povos.

Ou seja, a alimentação natural indígena se refletia no corpo de quem a consumia: numa aparência esbelta, delicada, até mesmo nos membros masculinos. Podemos afirmar que uma nova beleza foi descoberta por esses navegantes. Reparem nas obras de arte europeias desse período e comparem com os corpos indígenas do mesmo período: temos o padrão de beleza moderno, tanto para homens quanto para mulheres, sendo naturalmente cultivado pela civilização que aqui predominava.

Essa alimentação desprovida de sal, e novamente os índios se adiantam mais de 500 anos em relação à ciência da época, é o que a medicina hoje recomenda.

Quando hoje observamos corpos indígenas mais redondos, é o fruto de nossa industrialização, é retrato da modernidade capitalista, do viver em uma civilização industrial.

Uma diferença na alimentação indígena para a nossa repousa no seu significado […]