*Franklin Jorge
Acompanho há mais de cinquenta anos a sistemática e inexorável degradação da nossa cultura, apequenada pelo desvalor de uma horda de gestores sem distinção intelectual, apesar de ostensivos títulos acadêmicos, em geral mal adquiridos, às custas de recursos do contribuinte extorquido e esfolado por Impostos abusivos.
Em mais de cinco décadas, observando, estudando, fazendo, atuando na Cultura, escrevendo e pintando para subsidiar-me, editando, conferindo nova perspectiva ao Jornalismo Cultural, idealizando e criando a Oficina de Gravura Rossini Quintas Pérez [1979], abandonada e transformada em entulho pela açodadíssima e despreparada ex-secretária extraordinária de cultura do Rio Grande do Norte, em minha concepção alavancaria o setor de Oficinas da Pinacoteca do Estado, enfim instalada em 1983, no antigo Quartel-General, hoje Memorial Câmara Cascudo, no Centro Histórico de Natal.
A Fundação José Augusto, criada pelo Governador Aluízio Alves, para identificar, reunir, documentar, preservar, estudar e difundir os nossos talentos e valores culturais, históricos, arquitetônicos, artísticos, tradicionais etc, tornou-se no decorrer do tempo ancoradouro de gestores que seriam inúteis se não fossem, majoritariamente, midiáticos, mundanos, mal assessorados, arrivistas e oportunistas bafejados por apadrinhamento político-familiar.
Nos anos de 1970, aborrecido com algumas críticas que fiz ao poeta Augusto Severo Neto, na lata, por se referir à Anna Maria Cascudo Barreto de maneira pejorativa e grosseira, que ele não desempenhava bom papel portando-se daquela maneira; misturando o cargo de Diretor Cultural com rixas e ressentimentos pessoais que não me diziam respeito. Augusto ficou estupefato e emputecido – eis a palavra exata para descrever sua ira – com a minha petulância. Revoltado porque a desafortunada instituição se recusou a emitir nota de solidariedade a ele e de repúdio a mim, deixou o cargo e, ao fazê-lo, levou todo o acervo mal-adquirido, sob a alegação de que as obras teriam sido doadas a ele e não à FJA, que não seria amiga de nenhum artista.
Outros abusaram das prerrogativas do cargo para financiar seus projetos; viajando; comendo; financiando campanhas eleitorais, prestigiando a corriola. Sob o guarda-chuva da cultura institucional.
[Continua]