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Uma educação que forma idiotas

O fim da educação brasileira é a alienação e o controle das massas.

*Alexsandro Alves

[email protected]

 

PRIMEIRO PONTO

Eu iniciei algumas aulas em uma escola estadual esse trimestre. Não direi qual escola.

Ministrando aulas para a terceira série do Ensino Médio, descubro que, desde o início do ano, os discentes não têm professor de português. Eu estou falando de indivíduos que fizeram o ENEM semana passada. Não têm professor de português desde o início do ano letivo de 2023.

A profissão de professor é sem dúvida a mais cruel, mais triste e mais perversa que existe. Melhor dizendo, tornaram essa profissão assim, é preciso ter estômago para dar aulas.

Não é à toa que há tantos professores doentes – essa profissão mina a vontade do indivíduo. O professor que ainda se importa, é um derrotado. Percebe a inutilidade de sua profissão. Os mais espertos fingem que dão aula e os alunos fingem que aprendem, para não enlouquecer. A realidade do sistema educacional é bruta!

Em outra escola estadual que também leciono, não há mais aulas nas quartas-feiras para a segunda série do Ensino Médio. O motivo? Não tem professores, dentre estes, não tem também o de português.

Como discentes estão se formando sem aula de português? Que farsa é essa?

 

SEGUNDO PONTO

E mesmo se houvesse professor de português, que tal se déssemos um averiguada nos livros dessa disciplina ano após ano?

O que notaríamos?

O emburrecimento como meta a ser atingida.

Lá pelos anos 80 eu fazia o Ginásio! Eu tinha aulas de português em um livro excepcional. O livro era tão avassalador em seu conteúdo, que eu tinha orgulho de ler suas páginas!

Eu o lia como se fosse literatura! E era mesmo, era sim!

O nome do livro era “Reflexão & ação em língua portuguesa”, da quinta série à oitava série, todo o Ginásio, foi com essa coleção, abaixo, a capa do volume da quinta série:

Essa coleção possuía textos maravilhosos. Textos que falavam sobre violência, sobre fome, sobre violência doméstica! Textos longos, em forma de contos. Os exercícios eram pensados para fazer refletir. Era a língua portuguesa sendo valorizada pela palavra. Elas por elas.

Hoje, o número de páginas de um livro didático de português diminuiu bastante. Além disso, o conteúdo também deixa muito a desejar em relação aos livros do passado. Me parece que há mais imagens do que palavras. Há, hoje, a farsa dos “gêneros textuais”. E os alunos saem sem aprender a ler um parágrafo sequer. Leem imagens e são “convidados” a aceitar que uma imagem tem a mesma riqueza de um poema parnasiano. Aliás, poema parnasiano é até pecado, inserem um poema visual para essa geração.

O resultado?

O resultado do abandono da língua portuguesa em sua condição primordial verbal pela educação é a idiotização do discente.

E isso é o que esse sistema deseja, por fim.

Todo o mundo já viu a cena. Convidam uma professora, de preferência uma chefe de departamento de Educação de alguma universidade federal para falar sobre livro didático.

O livro didático precisa se aproximar da realidade do aluno. Já ouvi isso.

Tradução: o aluno é burro e o livro deve ser o mais fácil possível! Vejam os livros de português de hoje…

Outra pérola da mentira: O livro didático está cheio de textos de autores antigos!

Ah, se fosse verdade! Ah, se fosse!

Tradução: o aluno não quer saber de leitura, vamos igualar o vídeo game a um romance!

Outra tradução possível: ler não é somente ler! Eu leio quando jogo, eu leio quando vejo um filme, eu leio quando vejo uma série, eu leio quando escuto música… Nada disso supera a leitura de um livro literário.

O ódio à língua pátria é tão grande e o desprezo pelo aluno, sobretudo o aluno mais pobre, é tão intenso, que em São Paulo queriam substituir o livro físico. Não que faça muita diferença com relação aos livros atuais, mas que seria mais um ponto no emburrecimento, seria. Tudo caminha nessa pisada!

 

TERCEIRO PONTO

Falta professor de português num ponto, quando tem, o livro didático é mais raquítico que criança subnutrida, noutro ponto.

Estão destruindo a capacidade de pensar, de abstrair, do povo. Quanto mais palavras, quanto mais literatura, mais o indivíduo se torna cidadão.

Permitir que alunos se formem sem aulas de português, permitir que os livros didáticos contenham cada vez menos a língua portuguesa em toda a sua nobreza, é reduzir a capacidade do homem e da mulher de serem humanos. E isso é premeditado.

Aqui no Brasil, não interessa saber ler. Interessa ser aliado de uma ideologia: não basta saber ler mecanicamente que ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com esse trabalho (Paulo Freire). O início de tudo é perdido em troca de uma politização que, na prática, nunca chega, ao menos para maioria. Esta permanece sem saber ler e explorada, seja pelo patrão, seja pelo partido.

O livro didático se transformou em uma veículo de militância. Se fala da opressão do capital, mas esquecem o bê-á-bá. Não funciona. Basta ver as salas de aula das escolas públicas. Em sua maioria, são um espetáculo da pouca vergonha: o aluno lê um parágrafo e não sabe o que leu quando chega na última frase. Mas se nota numa prova uma questão sobre o agronegócio, imediatamente, mecanicamente, aliás, para lembrar, com ironia, de Paulo Freire, mecanicamente já sabe que a resposta é a que contenha críticas violentas contra ele.

E, após a prova, o que o aluno fará com o agronegócio? Nada. Ao menos o aluno pobre continuará comendo os frutos do agro sem nem mesmo lembrar de coisa alguma e, sobretudo, continuará sem a riqueza da língua portuguesa, essa sim, o faria pensar por si mesmo.

Missão cumprida.