*Da Redação
Como contribuição a futuros pesquisadores e historiadores da Historia da nossa Cultura, transcrevemos abaixo, sem edição, a troca de mensagens entre os jornalistas Silvio Andrade e Franklin Jorge, entre o entrevistador e o entrevistado, que resultou em uma entrevista frustrada pela dificuldade de comunicação. A ideia de reunir as Actas Diurnas em livro 50 anos depois, foi do fundador de O Novo Jornal, jornalista Cassiano Arruda (foto em destaque), que revolucionou o Jornalismo no RN, proporcionando aos leitores um produto de qualidade e inovador em seu designer gráfico criado por Paulo Moreira, da Firenzze.
De: silvio andrade <[email protected]>
Para: [email protected]
Enviadas: Quinta-feira, 3 de Novembro de 2011 18:06
Assunto: LIVRO ACTAS DIURNAS
Bom dia, Franklin Jorge.
Tô fazendo uma matéria sobre o livro “Actas Diurnas”, cuja seleção de textos foi feita por você.
A matéria deve sair no domingo e sua participação é essencial.
Se você receber este e-mail e tiver um tempo para respondê-lo, seria muito bom.
Segue abaixo um roteiro de perguntas, mas fica aberto para você declarar o que quiser.
Gostaria de saber por que você escolheu essas 189 crônicas.
Qual a importância dessas crônicas dentro da obra de Câmara Cascudo.
Franklin, na sua apresentação, no livro, você ressalta a qualidade da
obra de Cascudo. Dentro do gênero jornalístico, pouco conhecido
pelos leitores, qual a grande contribuição que ele deixou para
a literatura?
E o que representa essa obra para a memória dele?
Você acha que Cascudo tem o devido reconhecimento pelo que produziu?
Sílvio Andrade.
De: Franklin Jorge <[email protected]>
Para: silvio andrade <[email protected]>
Enviadas: Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011 13:06
Assunto: Re: LIVRO ACTAS DIURNAS
Silvio, estou em alto mar… De volta de Fernando de Noronha.
Espero que ainda possa usar as respostas:
Sílvio Andrade: Gostaria de saber por que você escolheu essas 189 crônicas.
Franklin Jorge: Escolhi-as levando em consideração um tema que contempla a cidade do Natal em vários aspectos: a cidade em si, imersa em seu cotidiano, e as personagens que a habitam; digo “habitam” porque, objetos do registro cascudiano, tornaram-se imortais. Afinal, como dizia Proust, a imortalidade é possível sim, mas somente através da criação de uma obra.
Qual a importância dessas crônicas dentro da obra de Câmara Cascudo?
Franklin Jorge: Cascudo é o nosso primeiro grande cronista do cotidiano. Porém, como historiador inato, quis resgatar aspectos e personagens da história local. Essas crônicas, a meu ver, antecipam um gênero; a história do cotidiano, que é hoje a grande vertente da historiografia moderna.
Franklin, na sua apresentação, no livro, você ressalta a qualidade da
obra de Cascudo. Dentro do gênero jornalístico, pouco conhecido
pelos leitores, qual a grande contribuição que ele deixou para
a literatura?
Franklin Jorge: Trata-se de um aspecto importantíssimo da produção cascudiana: a prática, avant la lettre, de um novo gênero jornalístico – o Jornalismo Cultural, do qual foi, evidentemente, um artífice e um mestre. Quanto a sua contribuição à literatura, é inestimável, pois antes de mais nada ele era um escritor; alguém, enfim, que escrevia, como gosto de dizer, em plena consciência.
Você acha que Cascudo tem o devido reconhecimento pelo que produziu? – Significa, sobretudo, o resgate do jornalista que ele foi. E o que representa essa obra para a memória dele?
Franklin Jorge: Creio que, desde a sua morte ocorrida em 1986, Cascudo tem servido de pasto para muitos abutres. Tem servido mais ao apetite incontrolável desses literatos provincianos sanguessugas que nada produzem, a não ser balas de festim.
Franklin Jorge
Recife, 4 de Novembro de 2011