*Franklin Jorge
Nada mais desafiador do que a percepção da realidade que se disfarça e se tornas às vezes imperceptível a nossa capacidade de observação. Isto explica o que chamamos de cegueira ou incapacidade de perceber a realidade dos fatos.
Bergson, primo de Proust, gostava de afirmar que que poucos, muito poucos, são capazes de pensar e perceber a realidade, ligando os pontos e construindo uma visão geral dos problemas que nos afetam ou virão, em dado momento, a nos afeta de uma maneira ou de outra.
Essa questão me vem à lembrança ao pensar nas duas últimas campanhas eleitorais para prefeito de Natal, quando o então prefeito Carlos Eduardo Alves ia de Ceca a Meca levando À tiracolo o jornalista Sávio Hackradt, para quem pedia votos, alguém enfim que não despertava nenhuma simpatia e chegava mesmo a ser antipatizado por muitos, pois estava visivelmente escrito em sua testa que era daqueles candidatos que apenas sonhavam em se dar bem às custas dos desinformados. Para alguns, se estava à so0mbra de um prefeito que se fizera popular, certamente devia ser uma boa opção. Mas, dessas vezes, a maioria o viu como era e deu-lhes as costas, pois de parasitas a Câmara e a Assembleia estão cheias.
Sávio não despertava minimamente a confiança de ninguém. Especialmente daqueles eleitores mais atilados, capazes de ver-lhe através do esqueletos e das vísceras. Antipatizado e arrogante, quando chefe da Casa Civil, não soube conquistar a confiança de ninguém, em especial daqueles que se viram na contingencia de obedecer-lhe as ordens e vontades, mesmo ungido pelo prefeito de bom coração. Ninguém com menor chance de chegar lá, na Câmara, do que Sávio Hackradt, cujo apetite pelo poder o levou até a cortejar segmentos muito distantes de sua própria história de vida, como o Cultural que antipatizou com ele e com o qual o próprio prefeito se fizera antipatizar, manter na titularidade da Cultura um gestor inepto e perseguidor de artistas, em especial daqueles que ousavam questionar-lhes os métodos coronelescos que, depois de anos de luta cerrada, pensávamos ter escorraçado para os cafundós de Judas.
Ouvi algumas vezes, nessa época, de observadores isentos, a pergunta que não podia calar: por que Carlos Eduardo perdia o seu tempo com candidato malvisto e sem futuro, quando havia tantos outros nomes dignos de sufrágio? Por que?
Creio que esse apoio tirou muito da credibilidade do próprio prefeito, que embora bem intencionado e disposto a dar boa vida a um amigo investiu no próprio desgaste. Não se apercebera, em nenhum momento das duas vezes em que o apoio para vereador, que não podia transferir votos para alguém que já havia sido julgado pelos natalenses. De fato, Carlos Eduardo não se deu conta que a transferência de votos tornara-se um instituto obsoleto que com o advento das Redes Sociais passara a fazer parte do passado. Afinal, o povo já não é tão besta como costumava ser até recentemente.