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Uma manipuladora contumaz

Fundador de Navegos contribui com pesquisadores do futuro publicando fatos relacionados com a atuação de Isaura Amélia Rosado Maia na Cultura Potiguar, destacando seu provincianismo, maquinações de bastidores e uma exacerbação narcísica que dir-se-ia patológica.

*Franklin Jorge

Uma noite em minha casa à Rua Prof. Manuel João 239, na Boa Vista, tradicional bairro de Mossoró, recebi a visita de Isaura Amélia Rosado Maia, então diretora do CEDOC – Centro de Documentação da Fundação José Augusto. Fazia-se acompanhar do namorado de plantão. Nesse contato, ao observá-la mais de perto, pude perceber que se tratava de uma pessoa fria, calculista e autoconfiante, determinada a satisfazer seus desejos mais íntimos pisando no pescoço do outro. Deu-me calafrios, pois não percebi nela, em sua maneira mal dissimulada de ser, nada de humano.  Pareceu-me, vista de perto, um ser minúsculo e reptiliano; sem dúvida, assustadora, apesar de sua afetada descontração.

Recebi-a com a típica cortesia dos ceara-mirimenses autênticos, sem atinar, no entanto, com a natureza dessa inesperada visita feita sem aviso prévio, no meio da noite mossoroense. Me lembro que ela se sentiu bem à vontade em minha casa, submeteu-a a um minucioso escrutínio e vistoria. Já na sala de jantar, vendo um bolo recém-assado sobre a mesa, partiu-o com as duas mãos e saiu a comê-lo. Na cozinha, destampou uma panela de grão-de-bico que eu fizera para o almoço do dia seguinte. Ainda mal familiarizado com os costumes locais, achei por bem relaxar, pensando no que às vezes dizia-me minha Avó, que sabia Latim – Romae sicut in Romanis… Em Mossoró como um mossoroense.

Num dado momento, quando ela apresentou-me dois ingressos de acesso ao Forte dos Reis Magos – um azul e outro cor-de-rosa – compreendi a verdadeira razão de sua visita que não seria meramente um ato de cortesia, mas, antes, o fruto de uma maquinação friamente calculada para fundir a gestão de François Silvestre, então alçado recentemente pela governadora Wilma de Faria à presidência da FJA, cargo que Isaura desejava em sua ambição de poder e controle da cultura potiguar. Ainda tenho esses dois ingressos em meus arquivos que compõem uma espécie de cartografia da cultura do RN nos últimos 50 anos.

Segundo ela, o Forte seria uma inesgotável mina de ouro, graças ao grande número de visitantes locais e de turistas de passagem por Natal, que, para visita-lo, pagavam ingresso, exceto alunos credenciados da rede escolar pública. Coisa de 1 milhão de visitantes ao ano, segundo informou, que rendia R$ 5 reais por cabeça, uma espantosa dinheirama que não estaria sendo contabilizada e ela, afetando ser a paladina da moralidade, preocupada com o uso do dinheiro do contribuinte, queria mais era ver François Silvestre denunciado, e talvez penalizado pelas garras da lei, por deixar a corrupção correr frouxa na instituição que presidia; negligência que culminaria, algum tempo depois, com sua escandalosa demissão a bem do serviço público.

De fato, a denúncia era grave. Gravíssima, diria; agravada ainda pelo fato ser François Silvestre um Procurador do Estado, de quem se esperaria que respeitasse a lei e agisse com prudência como gestor de uma instituição geralmente mal-afamada, mas, ainda assim, uma instituição de estado e, portanto, merecedora de bons exemplos.

Embora sendo o Forte uma verdadeira mina de ouro, veio-me então à mente que em nenhuma das vezes em que dirigira a FJA Isaura usou sequer  um centavo dessa dinheirama para preservar e investir nesse que é o mais famoso monumento de histórico de Natal; insistentemente negligenciado por ela, que o deixou se deteriorar  e sem investimentos, por mínimos que fossem. Ora, em nenhuma das vezes em que esteve à frente da FJA, Isaura Amélia mostrou qualquer resquício sequer de preocupação  pela destinação de vultuosos recursos arrecadados pelo Forte. Contudo, para a minha surpresa, investia-se ali como defensora duma moralidade que agora lhe parecia tão cara e merecedora de sua intervenção. Percebi muito de ressentimento e inveja nesse comportamento de quem se empenhava a todo custo  punir imediatamente o presidente da FJA, tecnicamente o seu chefe e a seu ver um perigoso contraventor que a governadora preferira a ela, Isaura, pessoa certa para comandar a cultura no estado. Pelo menos segundo sua alta e dispendiosa autoestima.

Lembrei-me que essa pratica – de desviar dinheiro arrecadado pelo Forte dos Reis Magos não era recente. Desde a época em que trabalhara na FJA [1979-1985], exercendo a Chefia do Núcleo de Criatividade e depois da Pinacoteca do Estado [que fundei para não ficar ocioso], ouvira inúmeras vezes que o Forte dos Reis Magos seria uma espécie de “casa da moeda”. Porém não fazia ideia do montante em dinheiro que resultava da venda desses ingressos. Um dinheiro que entrava e saía sem nenhum controle externo.

Não bastasse isto, François, procurador do estado em disponibilidade, teria o curioso hábito de comparecer ao expediente na FJA, quando comparecia, visivelmente alcoolizado, segundo me foi informado. Muita coisa pesaria sobre ele, como o desvio de obras do acervo da Pinacoteca do Estado para enfeitar as Casas de Cultura que ele criara em Caraúbas e Martins, um abuso que ficaria impune. Mesmo assim, para não me acumpliciar com Isaura nessa denúncia que a beneficiava mais do que à cultura, preferi ficar na minha, como um mero espectador. De maneira irresponsável e desrespeitosa, François preferiu a solução mais cômoda: saquear o acervo da Pinacoteca do Estado em vez de adquirir obras dos nossos artistas obras para as casas de culturas que ele criou sem provimento de recursos.  Um crime, portanto, de lesa-cultura que ficou impune.

É escusado dizer que apenas a ouvi, calado como uma porta. Não cai na maquinação de Isaura, conhecida e reconhecida no meio cultural de Natal e Mossoró por seu maquiavelismo contundente. Deduzi que ela desejava fundir François para ocupar o seu lugar na presidência da FJA, cargo que já ocupara e voltaria a ocupar’ por diversas vezes, sempre sem nenhum proveito efetivo para a cultura potiguar.

Não ficaria surpreso se alguém me dissesse que François Silvestre caiu, algum tempo depois, por sua participação no famoso escândalo do Foliaduto, em consequência de maquinações da própria Isaura Rosado, que desejava o seu cargo e viria a ocupar logo depois que François se fundiu por pagar com dinheiro do contribuinte bandas de música contratadas para a campanha de Wilma de Faria ao governo do estado. O escândalo que lhe custou a presidência da FJA ficaria famoso como o “Foliaduto”. Um vazamento de recursos do contribuinte para financiar os gastos de campanha de um governo corrupto.