Embora Villa-Lobos seja unanimemente considerado o maior vulto da história da música brasileira, escreve Rodolfo Coelho de Souza em artigo de 2009 sobre o Rudepoema, sua obra é invariavelmente elogiada apenas por seus aspectos de representação nacionalista. O que se constata é que a musicologia, tanto internacional quanto brasileira, valoriza Villa-Lobos pelo lado do exotismo e procura reforçar essa tese desqualificando suas habilidades técnicas.
Dois livros – um, coletivo, outro individual – consolidam essa guinada radical. Ele foi, de fato, um dos quatro ou cinco mais importantes compositores do século 20. Exagero? Não. A mais pura verdade, a julgar pela leitura dos catorze diversificados ensaios de “Villa-Lobos, um compêndio – Novos Desafios Interpretativos”, organizado por Paulo De Tarso Salles e Norton Dudeque. O primeiro, além disso, também assina “Os quartetos de cordas de Villa-Lobos – Forma e Função”.
Um processo iniciado em 2009 com a publicação da tese de doutorado de Paulo de Tarso Salles (Villa-Lobos: processos composicionais, Editora da Unicamp); e, em 2010, com a publicação do artigo seminal de Rodolfo Coelho de Souza (Hibridismo, consistência e processos de significação na música modernista de Villa-Lobos) sobre o Rudepoema, também objeto de ensaio de Silvio Ferraz no compêndio. Várias universidades espalhadas pelo país começaram a realizar pesquisas com novas ferramentas de análise que vêm desenhando o perfil deste novo Villa-Lobos.
(…) Pode-se compreender Villa-Lobos na superfície das melodias generosas, das referências a músicas populares e outros aspectos que tornam a escuta de sua música acessível, escreve o compositor Paulo Chagas no prefácio do livro de Salles. Mas pode-se também compreendê-lo na profundidade de seu pensamento, sua originalidade e inventividade, que os processos analíticos nos ajudam a perceber. A análise desvenda opções de escuta e conhecimento.