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Uma nova música para novos melômanos

Colaborador de Navegos expõe e disseca a contradição criada por Schoenberg, exaltado por um frankfurtiano defensor da música dodecafônica em detrimento da música tonal.

*Francisco Alexsandro Soares Alves

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Em seu livro Filosofia da Nova Música, Theodor Adorno faz uma previsão impossível, que se torna mais estranha porque o frankfurtiano não era mais um adolescente: no auge de seus 46 anos! Ele escreve que “haverá um dia em que Schoenberg será mais popular do que Wagner”. A questão não é em si uma questão sobre gosto musical, para Adorno é uma questão da nova música (dodecafônica) superar a música tonal. Por que isso é improvável? E sendo assim, a frase é apenas um arroubo de Adorno, por quê?

A tonalidade, elaborada durante o Renascimento e sistematizada por Bach e Rameau no século XVIII, é a base da praticamente toda a música ocidental, popular ou erudita. Através das relações harmônicas de acordes, tensões são criadas e resolvidas dentro de parâmetros como consonância (sons agradáveis) e dissonâncias (sons desagradáveis). A tonalidade é regida por princípios de hierarquia entre os sons: há, portanto, sons agradáveis e sons desagradáveis. O aprofundamento na teoria tonal criaria relações entre sentimentos e acordes, chegando na teoria dos afetos, muito usada na ópera barroca e, de certa forma, ressoando na metafísica da música de Schopenhauer em seu livro O Mundo como Vontade e Representação.

O dodecafonismo, sistema criado por Schoenberg no século XX, e que constitui, sem dúvida, o primeiro e único golpe mortal na tonalidade, retira da música o princípio da hierarquia entre acordes, sons e sentimentos, igualando todas as 12 notas no sistema tonal. O resultado dessa igualdade não natural é uma música em que abundam efeitos dissonantes, ruídos e distantes do ouvinte. Não se cria uma eufonia. Na verdade, o que se quer mesmo é evitar qualquer envolvimento emocional do ouvinte, como se o ouvido fosse um órgão pensante. Não é. Ao tornar a música estritamente racional e longe dos sentimentos, o dodecafonismo, ao mesmo tempo em que nasce, morre. O ouvido precisa de tensão e relaxamento. Isso não é um dado social ou cultural simplesmente, é biológico também.

Assim sendo, Schoenberg jamais será mais popular do que Wagner. Este último estica as possibilidades tonais de maneira infinita, criando por vezes tensões que duram por quatro horas seguidas, como em Tristão e Isolda.

A não ser que a sociedade mude sua maneira de ser e de pensar, o dodecafonismo estará sempre fadado a ser uma estética periférica no gosto do ouvido. Apenas com uma profunda mudança paradigmática na maneira de pensar a organização social, eliminando as barreiras e as hierarquias, a técnica de Schoenberg poderia ter uma ampla aceitação. Porque a tonalidade é um reflexo de nossa organização social.

Não que Schoenberg seja mais vanguarda do que qualquer outro. Schoenberg é outra sociedade, outro paradigma. Ele não admitia isso, ele não se via assim: mas ele é outra sociedade, outra cultura. Outra configuração para o humano… onde as 12 notas são todas… iguais…

Foto do estúdio © Arnold Schönberg Center, Vienna.